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EDUCAÇÃO & LITERATURA

A INTERATIVIDADE NA EDUCAÇÃO, ATRAVÉS DA COMUNICAÇÃO, NA TRANSMISSÃO, CRIAÇÃO E RECRIAÇÃO DA CULTURA DENTRO DA DIVERSIDADE PARA UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Maio/2003

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

"Nada pode parar uma idéia cujo tempo chegou”.

Victor Hugo

Para THOMAZ (2002) a educação não é uma simples matéria a sofrer tratamento tecnológico, ela está articulada com a comunicação, com a cultura e o imaginário. Para dar conta desta complexidade a escola há que desenvolver uma pedagogia interativa, partindo da interatividade social, valorizando a cultura como teia de significados construída pela humanidade, repleta de simbolismos. O papel da escola será o de favorecer uma comunicação que desperte no ser o reencantamento do mundo. Cabe aos profissionais da educação a reflexão sobre o processo de comunicação, como um elemento fundamental que vai permitir o envolvimento dos seres humanos, através de um processo compartilhado de mediação entre os signos e os símbolos, fundamental à vida do homem e de onde emerge toda a cultura e civilização. É através desses símbolos que compartilhamos significados e partilhamos experiências. E o educador se confunde com o educando.  Vivemos em culturas diferentes e atribuímos significados diferentes a mensagens idênticas. É preciso que os professores captem o significado atribuído pelo aluno, mostre ao aluno o significado por ele, professor, atribuído e reflitam sobre a diversidade da atribuição de significados. Dessa forma pode-se alterar o modo de perceber as coisas, pensamentos e significados, tanto dos educandos como dos educadores. A cultura é cumulativa, auto-organizadora e ao mesmo tempo lacunar e inacabada. E é no respeito a essa diversidade, especificidade e multiplicidade que a educação se fundamenta e a aprendizagem acontece. Nessa diversidade encontramos valores, modelos de comportamento, modos de pensar, modos de sentir e modos de acreditar. Há ainda a hereditariedade social, a história de cada um, a tradição codificada e acumulada no tempo, as representações sociais da realidade natural e social, as imagens do mundo e da vida. A autora vai dizer que “A educação necessita perceber a cultura como um instrumento indispensável no âmbito das relações sociais, da comunicação e do processo educacional”. É necessário valorizar além das expressões verbais comuns, os gestos e os comportamentos. E o processo ensino-aprendizagem só acontece quando essa complexidade é compreendida.

A comunicação envolve diferentes formas de expressão: palavras, imagens e sons com diversos significados. Linguagens verbais e não-verbais, linguagem do corpo, linguagem da ação, todas de grande importância na nossa formação. Nos relacionamos e interagimos com o outro através da comunicação. E é dessa forma que a sociedade se organiza. Daí a importância da teoria das “inteligências múltiplas” de Gardner.

Vivemos hoje em um ciberespaço onde “a humanidade reconecta-se consigo mesma”, segundo LÉVY. E a comunicação é um dos elementos mais marcantes dessa cultura nascente, que podemos chamar de pós-moderna.

Tudo isso acima dito já é de conhecimento dos profissionais da educação que observam os gestos, o corpo, os trejeitos, os murmúrios, o silêncio, as coisas não ditas, os olhares distantes, tristonhos, ou alegres, felizes e cheios de vitalidade de seus alunos. E muitos professores perguntam: Como fazer? Como proporcionar essa interatividade no ambiente escolar? Como sair desse clima hostil que é a escola? Como sair desta comunicação instrumental, sem participação, sem intervenção, sem diálogo? Como saltar de uma prática na qual o aluno é mero espectador para uma prática informacional? E não bastam teorias, porque o problema é estrutural, é preciso mexer na organização do espaço físico, na organização curricular e na metodologia aplicada. Quanto ao aspecto físico, precisamos criar salas ambientes onde professores recebam grupos de alunos para orientá-los em suas pesquisas. Salas essas informatizadas e equipadas com o material de uso daquele professor. Além de bibliotecas, laboratórios, salas de informática, etc. Todos esses ambientes com pessoas capacitadas para organizar o material e orientar os alunos em suas pesquisas. A escola tem que ir adaptando esses espaços que ela tem, assim novas necessidades vão surgindo e o espaço escolar vai ganhando uma nova configuração, saindo desse modelo de penitenciária que ela possui. Quanto à organização curricular, temos que dar o mesmo peso a todas as disciplinas, isto é, a mesma carga horária para Ciências, Educação Artística, Educação Física, Geografia, História, Língua Estrangeira, Matemática, Português, etc., buscando trabalhar sempre a interdisciplinaridade.  O papel do professor é o de incentivar e orientar o grupo a encontrar respostas às questões levantadas pelos elementos participantes desse grupo. E para isso não é possível estabelecer tempo. O grupo pode necessitar de determinado professor por quinze minutos, uma hora, duas horas; três vezes na semana, uma vez na semana. Cada caso tem que ser tratado dentro de sua especificidade. Não dá para continuarmos em salas de aula estanques, com tempo pré-estabelecido. E quanto à metodologia aplicada, o professor pode reunir uma turma grande para uma aula expositiva, para uma palestra, para a escolha de temas para projetos, e depois ele trabalhará com os grupos separadamente na elaboração do projeto, quando ele indicará inclusive fontes onde o aluno poderá encontrar o assunto de sua pesquisa, poderá encaminhá-lo a outros professores que poderão melhor que ele esclarecer certas dúvidas do aluno em determinados aspectos. O grupo redigirá o projeto que será analisado pelo professor que sugerirá modificações ou não. Uma vez o projeto pronto o aluno partirá para sua pesquisa propriamente dita, e a trará para análise do professor que dará novas orientações, após analisar as hipóteses levantadas pelo grupo. Uma vez a pesquisa concluída o grupo  apresentará o resultado aos demais grupos,  usando inclusive recursos das novas tecnologias.

Para isso o professor tem que contar com apoio de biblioteca, sala de informática, laboratório de ciências, laboratório de matemática, ter tempo disponível dentro da escola para atendimento aos alunos e planejamentos de atividades, além de um salário compatível. Sem a mudança dessas estruturas básicas é impossível conseguir uma educação de qualidade.  A interatividade e o trabalho com o hipertexto exigem uma revolução no pensar que valorize a contextualização. A eficácia do processo está em se trabalhar com aquilo que o sujeito sabe e conhece do mundo. A interdisciplinaridade é a tônica do processo ensino-aprendizagem. Novos hábitos de comunicação irão acontecer com a polissemia das palavras, da avalanche de imagens impregnadas de símbolos, mitos, ritos, valores, ética, estética e ideologia, fazendo pulsar as emoções.

 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

THOMAZ[2], Suely Barbosa.  Comunicação, Educação e Cultura: algumas aproximações no campo da sócio-antropologia. Morpheus - Revista Eletrônica em Ciências Humanas - Ano 01, número 01, 2002 - ISSN 1676-2924

<http://www.unirio.br/cead/morpheus/Numero01-2000/suely.htm>

 Acessado em 18/05/03

 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

CASALEGNO, Frederico. "Hiperliteratura, sociedades hipertextuais e ambientes comunicacionais". In: MARTINS & SILVA (org.) Para Navegar No Século 21. Tecnologias do Imaginário e Cibercultura. Porto Alegre : Sulina, 1999.

COHEN, Abner. O homem bidimensional. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

CRESPI, Franco. Manual de Sociologia da Cultura. Lisboa: Editorial Estampa, 1997.

DERRIDA, Jacques. A voz e o Fenômeno. Rio de Janeiro: Zahar, 1993.

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Koogan, 1989.

LEACH, Edmund. Cultura e Comunicação. Lisboa: Edições 70, 1976.

MAFFESOLI, Michel. A transformação do Político. Porto Alegre: Sulina, 1997.

______. "Mediações Simbólicas: a imagem como vínculo social". In: MARTINS & SILVA (org.).

Para Navegar No Século 21. Tecnologias do Imaginário e Cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 1999.

______. Elogio da Razão Sensível. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

MORIN, Edgar. O Enigma do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

RICOEUR, Paul. Interpretação e Ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S. A, 1977.

SILVA, Marco. Sala de Aula Interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.

SILVA, Juremir Machado da. Pode Existir uma Interatividade Imaginal? São Paulo. II Encontro sobre o Imaginário, Cultura e Educação, Mimeo. 2000

WITTGENSTEIN, L. Tractatus Logico-Philosophicus. São Paulo: Edusp, 1994.

 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINO – MEC – NTE-MG-2 

[2] Doutora em Educação pela UFRJ. Professora da Universidade do Rio de Janeiro.