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EDUCAÇÃO & LITERATURA

 

REFLEXÕES SOBRE UM NOVO TEMPO E UM NOVO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO: UMA OUTRA DIMENSÃO

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Julho/2003

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

 

“O tempo avança, e quem não avança com ele

fica velho, assim como você”.

Gorki

Temos ouvido falar muito na questão do tempo escolar na escola pública, no sentido de se ampliar os anos de escolarização do aluno, e/ou aumento das horas do aluno na escola,  como se isso por si só implicasse em qualidade. Isso pode atender sim a diminuição do desemprego dos profissionais da área da educação, e aos pais, que terão onde deixar seus filhos de seis anos, sem ônus, pois a educação pré-escolar está cada vez mais nas mãos da iniciativa privada, as poucas existentes, mantidas pelo poder público, são em sua maioria de péssima qualidade. Mais uma vez o sujeito da educação está em segundo plano. Não é o aumento das horas na escola, ou dos anos escolares que vai resolver a questão do analfabetismo, visto que temos alunos que estão na escola há quatro anos, senão mais, e ainda não sabem ler e escrever. Não há como se pensar no tempo escolar desvinculado do espaço escolar. Não é possível uma educação que vise um sujeito autônomo, criativo, participativo (e isto é ser alfabetizado), numa estrutura física feita para a formação de sujeitos dependentes, disciplinados, obedientes e conformados (analfabetos). O sistema que vigorou até agora, dentro do paradigma da sociedade industrial, exigia muitos analfabetos em prol da riqueza do país, exigia uma reserva de mão de obra barata, de pessoas dependentes, disciplinadas, obedientes e conformadas, hoje o quadro é outro e sabemos que não se produz tecnologia de ponta com mão de obra desqualificada. Precisamos de pessoas autônomas, criativas, participativas, para podermos gerar riqueza. Vivemos outro tempo e outro espaço no nível mundial, e não é possível  a aplicação dos novos métodos e técnicas de ensino, quando falamos em Pedagogia dos Multimeios, dentro de um espaço obsoleto.

Direta ou indiretamente vivemos num ciberespaço tendo influências das redes telemáticas, da telefonia móvel, das televisões a cabo, das conecções on-line e interativas, através da tela e o teclado do computador, do controle remoto da TV, do áudio dos telefones móveis. Esse fenômeno cultural contemporâneo promove um novo e profícuo espaço sócio-cultural, tornando-se parte fundamental de nossa cultura. Experimentamos o não-espaço e circulamos, muitas vezes sem nem percebermos, em um território transnacional, sem referências de lugar ou e de caminho. Ambientes sociais complexos e plurais acontecem nos mais diversos aspectos do relacionamento humano. É a realização do sonho de uma inteligência coletiva que está acontecendo em uma dimensão não convencional da noção de espaço. Vivemos um processo de desmaterialização do espaço físico. É um espaço mágico acontecendo em uma outra dimensão. São blocos econômicos que se formam, fronteiras alfandegárias que se abrem, intercâmbios culturais que se intensificam. A acessibilidade não depende mais da proximidade, as comunidades estão deslocadas da realidade geográfica tradicional, e é essa nova noção de espaço que vai completar e intensificar a sensibilidade da cultura contemporânea. É a possibilidade de se começar a construir um planeta sem fronteiras através da socialização da informação e dos meios de comunicação dessas informações.

E a minha questão é a seguinte: como fica o espaço escolar? Continuamos em salas de aula estanques? Engavetados para nos tornarmos dóceis? Ou vamos propor uma nova arquitetura? Uma arquitetura arrojada, montada pensando no aluno, no desenvolvimento de suas potencialidades e no respeito ao ritmo e limites de cada um. Um ambiente capaz de colocar todos os alunos juntos em situação de aprendizagem, com sentido para cada um, um ambiente capaz de envolver e mobilizar todos para o saber, atendendo a “zona de desenvolvimento proximal” de cada um. Não basta estarmos disponíveis para os alunos, precisamos compreender o motivo de suas dificuldades de aprendizagem e saber como superá-las, e precisamos promover as interações sociais, visando a comunicação e a cooperação. Precisamos de uma outra organização da estrutura escolar que rompa de uma vez por todas com a mentalidade de seriação, que amplie e crie novos espaços-tempos de formação, usando todos os recursos disponíveis para possibilitar a cada aprendiz o “vivenciar, tão freqüentemente quanto possível, de situações fecundas de aprendizagem”.

Conscientes de que trabalhamos com turmas heterogêneas, e sabedores que somos de que é preciso respeitar as diferenças, temos que criar dispositivos múltiplos, e para isso precisamos contar com espaços diferenciados dentro da escola, com salas ambiente, bibliotecas, sala de informática, oficinas, laboratórios, cantos, além de métodos complementares, inventividade didática e organizacional. Tudo para atender as diferenças. Precisamos aprender a trabalhar em espaços mais amplos, de forma cooperativa, em equipes. Para tanto o professor precisa de mais tempo, mais recursos, mais imaginação e mais competência, com domínio dos fatores sociológicos, didáticos e psicológicos. O professor precisa ter tempo e capacidade para escutar seus alunos e ajudá-los a formular seu pensamento, valorizando seus projetos, ainda que incompletos, incoerentes e instáveis, nem sempre racionais e justificáveis.

É uma escola com muitos espaços diversificados: salas ambientes para cada disciplina (informatizadas), biblioteca, sala de informática, laboratório de ciências, laboratório de matemática, ambientes de alfabetização, quadras de esporte, refeitórios e quantos espaços mais pudermos imaginar. Os alunos se organizariam em grupos de acordo com seus interesses de aprendizagem, montariam seus projetos multidisciplinares com a ajuda dos professores, escolhendo um tema, fazendo a delimitação desse tema, justificando a escolha do tema, elegendo objetivos, traçando um cronograma, fazendo levantamento de material necessário para a execução do projeto. E dessa forma o grupo poderia usar todos os ambientes da escola, ou mesmo fora da escola, para sua pesquisa, fazendo levantamento bibliográfico, selecionando material, fazendo suas anotações, levantando hipóteses, e esse grupo teria um contato com o professor que iria orientando a sua pesquisa, indicando fontes, indicando outros professores da escola, que poderiam orientar melhor certos aspectos da pesquisa, questionando certos pontos levantados pelo grupo. Seriam vários grupos, espalhados pela escola, cada qual trabalhando dentro de seus interesses, de forma cooperativa, enquanto alguns elementos do grupo estão na biblioteca, outros estão na sala de informática, outros vão ao laboratório de ciências, todos trabalhando dentro dos objetivos da pesquisa, se encontrando com outros grupos e interagindo. Estes alunos se encontram, trocam idéias, levantam hipóteses, e retornam ao professor orientador com o resultado da pesquisa. Uma vez pronto o trabalho, o grupo entrega o resultado final escrito ao professor e fazem uma explanação pública dos resultados obtidos, contando o caminho que percorreram para a elaboração do trabalho, as questões levantadas e as respostas obtidas. Isso seria preparar o aluno para o fazer científico, principal função da escola, no meu entender, preocupando-nos menos com conteúdos e mais com a formação de conceitos, que se adquire durante a produção. Dessa forma estaríamos  “possibilitando que cada aprendiz vivencie, tão freqüentemente quanto possível, situações fecundas de aprendizagem”. Desenvolvendo nos alunos a autonomia e a responsabilidade para realizar suas tarefas. E respeitando o tempo de cada um. 

São alunos com diferentes níveis de desenvolvimento, com diferentes conhecimentos prévios, com diferentes relações com o saber, com interesses diversos, com recursos diversos, com diferentes maneiras de aprender, em momentos de interatividade, agindo de forma coletiva e cooperativa. E a informática vai poder contribuir e muito para esse processo de desenvolvimento dessa nova escola. Uma escola motivadora e capaz de trabalhar com a diversidade. 

Se a escola não se propuser a repensar seu tempo e seu espaço visando o aluno, em vão serão todos os esforços para a formação de uma sociedade democrática e justa.

 

 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CARMO, Josué Geraldo Botura do. O espaço geográfico da pós-modernidade: um espaço sem fronteiras ou o deslocamento da noção convencional de espaço.

<http://planeta.terra.com.br/educacao/josue> Novas Tecnologias na Educação

Acessado em 28/07/03

CARMO, Josué Geraldo Botura do. Um pouco de Perrenoud

<http://planeta.terra.com.br/educacao/josue> Colégio Premium - Estudos

Acessado em 28/07/03

 1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO-MEC – NTE-MG2