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EDUCAÇÃO & LITERATURA

 

É PRECISO DESCONDICIONAR O OLHAR PARA PODERMOS VISLUMBRAR UMA NOVA ESTRUTURA DE ESCOLA NOS ASPECTOS TEMPORAIS, ESPACIAIS E RELACIONAIS 

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Setembro/2003

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

 

“Quando te vi amei-te já muito antes.

Tornei a encontrar-te quando te achei”.

Fernando Pessoa 

Rubem Alves  em um artigo à Revista Educação conta sobre sua visita à Escola da Ponte em Portugal. A escola fica situada em Santo Tirso, Vila das Aves, uma região carente em termos sociais. A escola há mais de 20 anos trabalha com currículos alternativos, procurando dar respostas às necessidades individuais de cada aluno. A Comissão de Avaliação Externa concluiu que os ex-alunos da Ponte alcançaram as melhores notas nas escolas para onde transitaram e conseguiram os melhores resultados nas provas.

Lá Rubem Alves encontrou crianças risonhas, livres e responsáveis, em um ambiente descontraído, uma escola que respeita a curiosidade natural e o desejo de aprender dos jovens. À Frente da escola há um pátio arborizado, e Rubem Alves foi conduzido por uma menina de nove anos, incumbida pelo diretor de forma espontânea a explicar a escola ao visitante estrangeiro. A menina explicou-lhe, alertando-o antes, que para entender a escola ele teria que esquecer tudo o que sabe sobre escolas: nessa escola não tem turmas, não tem alunos separados por classes, os professores não dão aulas com giz e lousa, não existe campainha separando o tempo, não tem provas e não tem notas. Os alunos formam grupos de seis elementos com interesse em um tema comum e escolhem um professor para os assessorar, esse professor ajuda com informações bibliográficas e de Internet. Elabora-se um programa de trabalho. Fazem-se leituras e pesquisas sobre o tema e volta-se a se reunir para avaliar o que se aprendeu. Os professores nessa escola não são aqueles que sabem os saberes, são aqueles que sabem encontrar caminhos para os saberes em livros, bibliotecas, enciclopédias, Internet. Parte-se do pressuposto de que se os alunos tiverem os mapas e souberem encontrar o caminho, eles terão sempre condições de descobrir o que sua curiosidade pede. Os professores são aprendizes junto aos alunos. Os professores ensinam o aprender aprendendo junto. E uma de suas tarefas é “seduzir” as crianças para coisas que ainda não experimentaram.

Numa sala grande com várias mesinhas, crianças pequenas com crianças grandes, algumas com síndrome de Down. Todas juntas num mesmo espaço, cada qual fazendo uma atividade diferente. Estantes com vários livros, computadores, algumas crianças lendo ou escrevendo, outras consultando livros ou computadores. Alguns professores assentados às mesinhas junto das crianças. Ninguém fala alto. Há entre eles relações de comunicação, confiança e responsabilidade. Um ambiente de cooperação, onde um ajuda o outro. Há dois quadros fixados na parede, em um está escrito: “Preciso que me ajudem em” e no outro “Posso ajudar em”, os alunos dessa forma, antes de procurar o professor, buscam ajuda com os  colegas. Isso faz parte do cotidiano da escola. É assim que eles praticam as virtudes de ensinar, de aprender e de ajudar uns anos outros. Cada criança é única, com seus próprios sonhos, ritmos e interesses. O objetivo da escola é criar um espaço em que cada criança possa pensar os seus sonhos e realizar aquilo que lhe é possível, no ritmo que lhe é possível. Os próprios alunos são responsáveis pela disciplina e procuram dissuadir aos outros que estão  perturbando a ordem.

O dia inicia-se com cada criança sentada onde quiser, escrevendo em uma folha de caderno o seu plano de trabalho do dia, que está ligado ao seu projeto de investigação. Ao final do dia a criança compara o que realizou com o que planejou e avalia o quanto caminhou.

As leis da Escola ficam afixadas em uma parede. Essas leis são sugeridas e aprovadas pela assembléia, com a participação dos alunos, dos professores e dos funcionários da escola.Essa assembléia se reúne todas as sextas-feiras em assembléia geral, dirigida por uma diretoria eleita pelas crianças. Essa assembléia discute problemas da escola e propõe soluções. E a opinião das crianças tem valor. Daí elas pensarem com seriedade sobre a escola e se preocuparem com seus problemas.

Em um computador há dois arquivos, um com o nome “acho bem” e outro com o nome “acho mal” ali os alunos se manifestavam a respeito de fatos ocorridos no mundo, no país, na comunidade ou na Escola.

Essa é uma escola fundamentada no respeito  à diversidade, visando a inclusão social como colaboração para a democratização da sociedade, na construção da cidadania, de forma vivenciada.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

ALVES, Rubem. Apaixonei-me por uma escola...Revista Educação, 2003

<www.revistaeducacao.com.br >

acessado em 31/08/03

 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO-MEC NTE-MG2