JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO |
CONTEÚDOS X FORMAÇÃO DE CONCEITOS: UMA MUDANÇA DE ATITUDE Josué Geraldo Botura do Carmo[1] Outubro/2003 |
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Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) em seu volume 1 Introdução vão propor uma mudança de enfoque em relação a questão dos conteúdos curriculares. Este documento propõe que o conteúdo “seja visto como um meio para que os alunos desenvolvam as capacidades que lhes permitam produzir e usufruir dos bens culturais, sociais e econômicos”. O que significa que os conteúdos não devem ser trabalhados como um fim em si mesmo, mas como meio. Para tanto são estabelecidas três categorias de conteúdos: Os conteúdos conceituais, os conteúdos procedimentais, e dos conteúdos atitudinais. O primeiro envolvendo fatos e princípios, o segundo envolvendo valores e normas, e o terceiro envolvendo atitudes. É a partir desse enfoque que desenvolvo este meu texto que tem como objetivo responder a questão: Como deixar e ser conteúdista? A escola trabalha com informações e dados e tem também como sua função trabalhar valores, normas e atitudes. As informações e os dados servem para desenvolvermos o nosso intelecto, dentro de um pensar científico. Os valores e as normas, vão se referir a questões morais. E as atitudes vão estar ligadas tanto à questão intelectual como moral, seria uma questão de sociabilidade. Portanto precisamos pensar primeiramente: Como trabalhar as informações e os dados de forma a desenvolver o intelecto, dentro do pensamento científico? Já sabemos através de Vygotysky, Piaget, Emília Ferreiro e Teberosky que o conhecimento para ser conhecimento deve ser construído. E conhecemos a idéia de Papert que defende a produção do máximo de aprendizagem com o mínimo de ensino. As informações e os dados estão aí através dos livros, das enciclopédias, dos filmes, dos vídeos, dos jornais, das revistas, do rádio e da televisão, dos softwares, da Internet. Dessa forma: Como trabalhar os conteúdos conceituais? O próprio nome está dizendo, trabalhar a formação de conceitos. E o que seria trabalhar a formação de conceitos? Seria cada um de nós, após contato com diversas informações e dados sobre determinado assunto, criarmos o nosso conceito, de acordo com nossas vivências de mundo, sobre aquele determinado assunto. A construção do conceito é mais importante que o conteúdo. Daí a importância do aluno montar um projeto, ele mesmo, com a ajuda do professor, sobre um tema por ele escolhido. É importante trabalhar com assuntos de nosso interesse. Ele vai desta forma construir a sua metodologia de trabalho, vai levantar suas hipóteses, chegar às suas conclusões e formar os seus conceitos. O importante não é o tema, não é o assunto abordado, o importante é termos uma metodologia que nos permita formar conceitos e portanto mudar de atitudes. E é importante também estarmos sempre prontos a rever nossos conceitos, estarmos abertos para o fato de que nem os conceitos dos outros e nem os nossos são verdades incontestáveis no tempo e no espaço, muito pelo contrário. Neste aspecto cabe ao professor orientar o aluno na elaboração de seu projeto, indicar-lhe fontes de pesquisa para determinado assunto, auxiliar o aluno na seleção do material, e auxiliá-lo na elaboração do texto final e na exposição final do trabalho. Tudo tendo em vista que o importante é a formação de conceitos. Se o aluno escolheu o tema Petróleo ele vai buscar várias fontes: informações e dados sobre o petróleo, e no final é ele que vai dizer o que é petróleo, para que serve, se é um bem ou um mal. Talvez esse mesmo aluno daqui a alguns anos vai achar uma solução feliz para o fim do petróleo. É preciso termos em mente que para formarmos conceitos precisamos conhecer o assunto em seus vários aspectos para depois podermos, após a construção de nosso conhecimento daquele assunto, chegar a um conceito que nada mais seria que a síntese do conhecimento que construímos, é a formulação de uma idéia, é a representação de um objeto pelo pensamento, através das informações de suas características gerais e de nossa vivência de mundo. Até aqui nos detivemos na análise dos conteúdos conceituais que não deixam de ser também atitudinais, pois através dos conceitos por mim construídos é que vou ser capaz de mudar minhas atitudes. Os próximos conteúdos a serem analisados são os conteúdos procedimentais, que estão ligados à questões de valores e normas e que não deixam de ser também atitudinais, porque é através desses conteúdos também que somos capazes de mudar nossas atitudes. E a pergunta seguinte seria: Como trabalharmos os conteúdos procedimentais? E mais uma vez o próprio nome está nos dizendo: através de nossos procedimentos. Defendemos de fato a participação e a democracia? Então tenhamos uma estrutura de escola em que todos tenham a oportunidade de participar e escolher. Acreditamos mesmo na transparência? Que tudo seja transparente dentro da escola. E dentro dessa concepção, é claro que pode haver outra, as normas são decididas por todos. E o que precisa ficar claro nos conteúdos procedimentais é que existem outras formas de procedimentos que variam no tempo de no espaço. E que não são nem certas e nem erradas, são diferentes. Deixar de ser conteudista, é portanto, deixar de dar conceitos prontos aos nossos alunos, achando que basta uma boa explicação usando o quadro, o mural, o retroprojetor, o slide, as novas tecnologias, fazendo uso desses recursos para desenvolver a atenção e a memória através da repetição. Dessa forma eu imponho um conceito ao meu aluno, sem espaço para reflexões e não fico perdendo tempo com “questionamentos desnecessários” e assim posso vencer os conteúdos propostos para o curso. E aqueles que prestaram a atenção às minhas palavras, que copiaram tudo do quadro, que fizeram todos os exercícios de fixação e que estudaram com certeza farão uma boa prova. Mas será que tudo isso não servirá somente para fazer uma boa prova, conseguir um bom conceito e passar de ano? Isso não é muito pouco? Não podemos nos esquecer, e é o que os teóricos da educação, que arranjam jeito para tudo se esquecem: para isso é preciso mudar a estrutura da escola, e principalmente a estrutura de sala de aula. A única certeza é que precisamos mudar de atitude, mudar de postura. Temos uma tradição empirista e tecnicista, nela tivemos a nossa base escolar e foi nela que aconteceu a nossa formação profissional. Mudar de postura vai exigir de nós um grande esforço, precisamos nos vigiar a todo instante para não cairmos em vícios ainda que dentro de uma estrutura nova e com recursos novos ao nosso dispor. Espero com este ensaio poder ser claro em meu conceito de conteudismo e poder eu mesmo dessa forma mudar de atitude e contribuir para que outros formem o seu conceito de conteudismo e possam também mudar de atitude. [1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO-MEC NTE-MG2 |