EDUCAÇÃO & LITERATURA |
A INTERDISCIPLINARIDADE E O TRABALHO COM PROJETOS Josué Geraldo Botura do Carmo[1] Janeiro/2004 |
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JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO
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Primeiramente é preciso entender o que seja interdisciplinaridade. Para melhor compreender esse conceito procurarei definir multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Multidisciplinar – trabalhamos a multidisciplinaridade quando elegemos um tema único a ser trabalhado com várias disciplinas. Neste caso recorremos à informação de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si. Cada matéria contribui com informações pertinentes ao seu campo de conhecimento, sem uma real integração entre elas. Ultrapassa as fronteiras disciplinares, enquanto sua meta permanece nos limites do quadro de referência da pesquisa disciplinar. Interdisciplinar – quando as metodologias e conhecimentos de outras disciplinas podem ser utilizadas por professores de várias disciplinas. Aqui estabelecemos uma interação entre duas ou mais disciplinas. Há uma relação de reciprocidade, de mutualidade, um regime de co-propriedade, de interatividade, possibilitando o diálogo entre os interessados Transdisciplinar – não específico de uma disciplina, mas entre e além delas. Aqui a cooperação entre as várias matérias é tanta que não dá mais para separá-las, assim surge uma “macrodisciplina”. Para facilitar a transmissão e a absorção do conhecimento, os seres humanos dividiram o conhecimento em vários compartimentos, comumente chamados de disciplinas: Português, Matemática, Física, Química, História, Geografia, Artes, Filosofia, etc. Essas formas de classificação do conhecimento são artificiais, pois um problema geralmente nunca se encaixa unicamente dentro de uma só disciplina, daí a necessidade de se abordar um tema de forma integrada que envolva várias disciplinas. Essa organização curricular das disciplinas tem colocado-as como realidades estanques, fragmentadas e isoladas, dificultando a apropriação do conhecimento e a construção de uma visão contextualizada que vai permitir uma percepção sistêmica da realidade. Urge, portanto, pensar em uma proposta de educação interdisciplinar, organizando os currículos escolares de modo a possibilitar uma integração entre as disciplinas, que permitirá a construção de uma compreensão mais abrangente do saber, historicamente produzido pela humanidade. Aqui a necessidade de se reestruturar o tempo e espaço escolar, de construir uma grade curricular sem hierarquias. A educação hoje deve levar em consideração todas as dimensões do ser humano devido às mudanças que estão ocorrendo no mundo contemporâneo, tanto no campo econômico, quanto no campo cultural e no campo espiritual. Os quatro pilares onde deve fundamentar um novo tipo de educação, segundo a UNESCO[2] em relatório da Comissão internacional sobre a educação para o vigésimo primeiro século, presidida por Delors são: Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver em conjunto e aprender a ser. A interdisciplinaridade pode ser uma importante contribuição para esse tipo de educação. O trabalho com projetos pode nos ajudar, e muito, no como trabalhar cientificamente e de forma interdisciplinar. Precisamos aprender a penetrar no âmago da abordagem científica e estabelecermos pontes entre as diferentes disciplinas, desenvolvendo a capacidade de conectar-se, adaptar-se às exigências da vida profissional com flexibilidade, e capacidade de atualizar-se constantemente, sempre com muita criatividade, e sabendo agir de forma cooperativa. Precisamos buscar uma educação dirigida para a totalidade do ser humano: intelectual e sensível, porque a inteligência assimila o conhecimento muito melhor e muito mais rapidamente quando esse conhecimento também é compreendido com o corpo e com o sentimento. Para tanto a escola deve estar livre de qualquer controle ideológico, político ou religioso, permitindo que o outro construa o seu conhecimento. A escola precisa adotar uma postura de neutralidade diante de todo e qualquer tema. O trabalho com projetos dentro da escola vai ensinar a todos: professores e alunos a trabalharem de forma interdisciplinar e cooperativa. Não tem receita. É só começar e o resto flui de forma surpreendente, porque todos aprendem com todos e é assim que vamos construir uma inteligência coletiva local, estabelecendo um diálogo entre as várias abordagens culturais, capaz de participar da inteligência coletiva planetária, através de interações em escala mundial. Para isso precisamos incentivar o desenvolvimento de todos os meios técnicos disponíveis, promovendo o domínio público da informação. Precisamos aprender a pensar com clareza nas coisas e em seus contextos, com olhos no desenvolvimento industrial e na inovação tecnológica a fim de assegurar que suas aplicações não contradigam uma ética da responsabilidade perante outros seres humanos e o meio ambiente. A abordagem interdisciplinar é uma ciência e uma arte de dialogar.
É interessante observar que a palavra
inteligência em chinês é representada pelos ideogramas: cabeça e coração.
E essa é a inteligência que buscamos hoje no ocidente: o equilíbrio entre
o intelecto e o sensível, num diálogo entre a ciência e a arte, ou seja, a
teoria e a prática. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BITTENCOURT*, Cleide Tavares. CARDOSO**, Hugo Saba. VALLADARES***, Jaqueline Souza de Oliveira et al. Ambiente de apoio a interação na construção de projeto interdisciplinar. <http://www.abed.org.br/nordeste/downlaad/cleidejacksinomehugojuvenal.pdf> Acessado em 23/01/04 CHAVES****, Eduardo O. C. O que é um projeto interdisciplinar? <http://www.centrorefeducacional.pro.br/projinter.htm> 23/01/04 LEE, Paulo Sem*****. Trabalhos e projetos <http://www.adorofisica.com.br/trabalhos/trab_revista.html> Acessado em 23/01/04 NICOLESCU, Basarab.
A evolução transdisciplinar a universidade <http://perso.club-internet.fr/nicol/ciret/bulletin/b12/b12c8por.htm> 23/01/04
*CEPPEV – Mestrado Interdisciplinar em Computação Científica, Salvador – Bahia – Brasil - cleidetb@hotmail.com **CEPPEV – Mestrado Interdisciplinar em Computação Científica, Salvador – Bahia – Brasil - hugosaba@hotmail.com ***CEPPEV – Mestrado Interdisciplinar em Computação Científica, Salvador – Bahia – Brasil - projaq@campus1.uneb.br ****Professor Titular de Filosofia da Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Consultor do Instituto Ayrton Senna (IAS). *****Professor de Física e coordenador do projeto
****** Conferência no Congresso International "A Responsabilidade da
Universidade para com a Sociedade", International Association of
Universities, Chulalongkorn University, Bangkok, Thailand, de 12 a 14 de
novembro de 1997 |