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EDUCAÇÃO & LITERATURA

 

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

O TRABALHO COM PROJETOS E A CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS ATRAVÉS DA CONEXÃO, SELEÇÃO E SÍNTESE DE INFORMAÇÕES X CONTEÚDOS PRÉ-ESTABELECIDOS

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

fevereiro/2004


 

 

 

A questão que se coloca é a seguinte: Quais os conteúdos que devemos trabalhar em cada série para que o aluno não tenha dificuldade em assimilar os conteúdos da série seguinte? Como avaliar o progresso de cada aluno nesses conteúdos para se saber se ele está apto a passar para a série seguinte? 

Essa discussão nos remete às várias áreas do conhecimento: Português, Matemática, História, Geografia, Ciências, Educação Física, Educação Artística, Língua Estrangeira. 

A princípio comecei a pensar: quais os conteúdos mais importantes para cada área do conhecimento? Seria possível estabelecermos o início do estudo da gramática formal a partir da primeira etapa do quarto ciclo (antiga sétima série)? Mas depois pensei que se tirar o estudo de gramática dos ciclos anteriores, o professor, desesperado, poderá perguntar: e agora o que vou fazer para ocupar todo o tempo em sala de aula? Porque o estudo da gramática ajuda muito a passar o tempo em sala de aula: “Passe para o masculino”, “passe para o feminino”, “passe para o singular”, “passe para o plural”, “copie os coletivos”, assim como uso do recurso da “cópia da página tal do livro”, e do “arme e efetue” na área de matemática. 

Viramos e mexemos e caímos na questão da estrutura de sala de aula. O mesmo vai acontecer com a questão da avaliação. Se não houver prova, se não houver reprovação, como vamos conseguir manter a disciplina em sala? Aí chegamos à conclusão de que nessa estrutura em que trabalhamos, de sala de aula, só temos condições de trabalharmos conteúdos e temos que aplicar muitas provas para provar ao aluno que ele não sabe nada e por isso deve ficar quieto e prestar a atenção para aprender, e se não mudar de postura vai ser reprovado. 

Em nossa Filosofia em construção do Projeto Político Pedagógico falamos do respeito à diversidade cultural e ideológica, do respeito ao ritmo e interesses de cada um, visando sempre a inclusão social. Almejamos um estudante capaz de construir o seu próprio conhecimento através de métodos próprios: conectando informações, selecionando-as e sintetizando-as, e que saiba compartilhar com os outros o seu saber construído. Falamos de uma escola com espaços diversificados para atividades intelectuais, artísticas, esportivas e de lazer, com espaços e tempos flexíveis. Falamos da necessidade de trabalharmos a partir do mais próximo para o global.  

Quanto à questão avaliativa, segundo o texto em construção de nossa filosofia, o papel do professor é o de orientar, de intervir para qualificar, criando condições para a efetiva aprendizagem e desenvolvimento de todos. O professor não tem que medir, julgar ou selecionar. Dessa forma a avaliação seria progressiva, cada qual no seu ritmo, dentro de suas possibilidades, dando ao aluno a oportunidade de reconstruir a sua aprendizagem, respeitando o ritmo de cada um e sua trajetória escolar e de vida. 

              “A avaliação é uma atividade de acompanhamento e transformação do processo  

               de ensino-aprendizagem, através da observação, análise, registro, reflexão sobre o

               que foi observado e registrado, comunicação dos resultados e tomada de decisão

               para atingir os objetivos que ainda não foram alcançados, ou seja, fazendo

              diagnósticos, analisando a situação, dando retorno ao aluno de seus limites e seus

              avanços, e preparando novas atividades que poderão auxiliar o aluno na superação 

              de seus limites e no melhor aproveitamento de suas capacidades”.

Quanto aos objetivos gerais educacionais falamos sobre:

  1. Promover a comunicação de forma clara e objetiva, através do domínio das diversas linguagens utilizadas pelo homem;
  2. Promover o desenvolvimento dos raciocínios dedutivos, indutivos e da intuição para se buscar caminhos para a resolução de problemas;
  3. Promover a capacidade de  analisar e interpretar fatos de forma participativa;
  4. Promover a capacidade de compreender o entorno social para poder atuar sobre ele;
  5. Promover a capacidade de receber criticamente informações e dados veiculados pelos meios de comunicação;
  6. Promover a capacidade de localizar, selecionar e gerenciar as informações coletadas;
  7. Promover a capacidade de planejar e decidir em grupo;
  8. Cultivar uma mentalidade coerente com a realidade mundial, partindo sempre do entorno social;
  9. Desenvolver o trabalhar coletivo, sabendo respeitar a diversidade de idéias dentro do grupo;
  10. Formar uma comunidade escolar crítica e participativa.

Essa nossa Filosofia nos remete ao trabalho com projetos interdisciplinares, que vai exigir uma outra estrutura de funcionamento de nossa escola: com novos tempos e novos espaços. E essa nova estrutura tem que ser construída por nós mesmos, todos os envolvidos no processo educacional dessa Escola. Pensando em como utilizar melhor nossos espaços, e os recursos humanos e materiais que temos. E aproveito para deixar aqui essa pergunta: Por que não dar o mesmo peso a todas as disciplinas, ou seja, todos os professores terem a mesma carga horária semanal? Português, Matemática, História, Geografia, Ciências, Educação Física, Educação Artística, Língua Estrangeira. 

A seguir farei uma sugestão de como poderíamos iniciar o nosso trabalho com projetos interdisciplinares. Que pode começar devagar, cada professor no seu tempo, construindo o seu estilo de trabalhar com projetos. Esqueçamos os conteúdos e vamos ouvir os nossos estudantes. O importante é que eles aprendam a formar conceitos, a ler e escrever bem, a saber conectar, selecionar e sintetizar informações. O conteúdo será uma conseqüência. 

Reunimos uma turma de alunos e pedimos sugestões de temas de seus interesses para se montar um projeto.  

 

música, dança, futebol, lixo, cigarro, drogas, sexo, violência, esportes, rock, funk

 

Alguns temas talvez possam ser agrupados

música – rock – funk

dança

futebol – esportes

lixo

cigarro – drogas

sexo

violência

Forma-se grupos de alunos de acordo com o interesse. Suponhamos que um dos grupos escolheu o tema "violência". 

O tema em si é muito abrangente, é necessário fazer uma delimitação desse tema para que se possa começar a trabalhar. 

Suponhamos que o grupo decidiu pesquisar sobre "A violência no Bairro de São Benedito - Santa Luzia - MG nos dias de hoje". 

Os alunos fazem um pequeno texto justificando o porque da escolha desse assunto: 

"Escolhemos esse assunto para tentar compreender o porque se diz que o bairro de São Benedito é um bairro bastante violento". 

Estabelece-se em seguida os objetivos  (fazer algumas perguntas que devem ser respondidas no decorrer da pesquisa, confirmando ou refutando hipóteses levantadas pelo grupo): 

    1. Quais os tipos de violências mais comuns nessa região?
    2. Qual a faixa etária das pessoas envolvidas com a violência?
    3. Como funciona a segurança no bairro?
    4. O nível de violência é realmente alto no bairro de São Benedito em relação a outros bairros?

Não se faz muitas perguntas. É melhor poucas perguntas bem respondidas que muitas mal respondidas. 

A seguir os alunos estabelecerão a metodologia a ser aplicada: 

A pesquisa acontecerá através de noticiários: jornais, rádios e Tvs, entrevistas com os moradores do bairro e com o delegado de polícia do Distrito. 

A seguir é importante que o grupo estabeleça um cronograma de ação: 

·        1ª semana de março: levantamento de material e elaboração das perguntas para as entrevistas.

·        2ª semana de março: seleção de material e elaboração das perguntas para as entrevistas.

·        3ª semana de março: Entrevistas.

·        4ª semana de março: Análise das entrevistas.

·        Final de março e início de abril: Elaboração do texto final, procurando responder as questões propostas nos objetivos.

·        2ª semana de abril: Apresentação do trabalho ao professor (para orientação).

·        3ª semana de abril: Reelaboração do material, elaboração da introdução, onde os alunos explicarão o percurso que fizeram para a elaboração do trabalho e conclusão.

·        4ª semana de abril: apresentação do trabalho ao professor para revisão final.

·        5ª semana de abril: reelaboração final do trabalho com gráficos, tabelas, ilustrações.

·        1ª semana de maio: Apresentação do trabalho à turma, que pode ser feita na sala de informática com recursos do PowerPoint, ou outros recursos

A próxima etapa será o levantamento de material que os alunos necessitarão para a pesquisa, no caso: 

Jornais, Televisor, Rádio, computadores, Internet, disquete, skanner, máquina fotográfica. 

É importante lembrar ao grupo que todos devem anotar as fontes de onde foram tirados os materiais usados para a elaboração do trabalho para a referência bibliográfica. 

Dessa forma estamos incentivando o trabalho científico em detrimento ao escolar:

Com uma capa dentro dos padrões do trabalho científico

Com uma introdução

Com o desenvolvimento da pesquisa

Com uma conclusão

Com referência bibliográfica 

Esse é um projeto interdisciplinar que vai envolver pelo menos as áreas de Português, Matemática, História, Geografia e Informática. 

O professor de Português pode ajudar na revisão do texto com o grupo.

O professor de Matemática pode ajudar na elaboração dos gráficos e tabelas.

Vão estar presentes no trabalho questões de história e geografia que podem ser enriquecidas pelos respectivos professores.

Na sala de informática ele poderá redigir o trabalho, pesquisar sobre o tema em enciclopédias eletrônicas e na Internet, elaborar os gráficos e tabelas, digitalizar imagens, criar slides para a apresentação final de seu trabalho ao grupo.

Poderá usar também a biblioteca durante sua pesquisa. 

Com projetos desse tipo o aluno estará aprendendo a conectar informações, selecionar informações, sintetizar informações, construir conceitos, organizar o pensamento, e estará desenvolvendo habilidades de leitura, escrita e raciocínio lógico. O trabalhar com projetos não é uma metodologia e sim uma concepção de ensino. 

Não podemos nos esquecer que o professor precisa ter tempo suficiente para estar orientando cada grupo em particular nos dias previstos em cronograma, ou no momento em que o grupo tiver necessidade. Não só o professor orientador do projeto, mas todos os outros professores que forem solicitados pelos grupos dentro de sua área, para orientações e esclarecimentos que se fizerem necessário. 

Essa é uma alternativa que pode ser experimentada, dentre outras, para se conseguir uma educação mais eficiente. 


 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO - MEC - NTE-MG2