A LINGUAGEM DA INTERNET Josué Geraldo Botura do Carmo[1] Novembro/2004 |
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EDUCAÇÃO & LITERATURA JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO
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Otávio Ianni[2], vai dizer, segundo Melissa Elias Viana, que “a aldeia global está sendo desenhada, tecida, colorida, sonorizada e movimentada por todo um complexo de elementos díspares, convergentes e contraditórios, antigos e renovados, novos e desconhecidos. Formam-se redes de signos, símbolos e linguagens, envolvendo publicações e emissões, ondas e telecomunicações. Compreendem as relações, os processos e as estruturas de dominação política e de apropriação econômica que se desenvolvem além de toda e qualquer fronteira, desterritorializando coisas, gentes e idéias, realidades e imaginários”. O computador passa a ser uma extensão natural de nossas vidas, provocando o desenvolvimento de um raciocínio rápido, e da habilidade de decodificar símbolos, defendendo por si o direito à individualidade e à privacidade, com interatividade e reflexão. Diferente da televisão que precisa gritar o tempo todo a todo mundo, impondo suas idéias, o computador fala a cada um, permitindo a formação de tribos, respeitando a diversidade cultural. Sem sair do quarto viajamos pelo mundo todo através da Internet. Visitamos diversos sites, enviamos e recebemos mensagens, participamos de conversas em salas de bate-papo das mais diversas, com os mais variados assuntos, muitas vezes com recursos até de nossas imagens em tempo real. Estamos vivendo um momento em que descobrimos novos modos de organização e transmissão das tradições, de uma forma muito livre. A virtualização do espaço está possibilitando uma nova concepção de espaço geográfico. É uma comunidade que se constitui, que se reorganiza a todo momento, através de conexões transversais e simultâneas, possibilitando a construção de uma inteligência coletiva. A Internet já foi incorporada à nossa rotina, nos proporcionando grande comodidade: bancos, livrarias, bibliotecas, supermercados, jogos, correio, cursos, conferências... tudo a nossa disposição através do teclado, com muita informação, comunicação e entretenimento, ampliando nosso universo de relações. A sala de bate-papo talvez seja um dos recursos mais popular utilizado na Internet. Conversamos com pessoas de todas as partes do mundo, em tempo real, por intermédio de “canais” dedicados a assuntos específicos, anonimamente, através de apelidos. E essa comunicação se faz através de relatos, imagens, sons, ícones, códigos, símbolos, cada qual com sua linguagem e seu ritmo, de forma bastante flexível, com economia de caracteres, uso de palavras e expressões de língua estrangeira, e sem preocupação com as regras gramaticais. A rapidez da comunicação via chat (sala de bate-papo) ou e-mail (correio eletrônico) permite uma fluência maior da linguagem, quase com a mesma rapidez da fala. Nos deparamos dessa forma com abreviações de palavras, foram suprimidos acentos, cedilhas, pontuação. A linguagem é mais fonética que etmológica. A preocupação é de refinar a mensagem para que esta possa ser expressa com o menor número de caracteres possível, pois mantemos nesse ambiente várias conversas distintas, simultaneamente. Essa forma de linguagem vem reafirmar a proposta da Internet de ser uma rede democrática e autogovernável. Linguagens desse tipo apareceram através dos telégrafos e dos radioamadores, contudo não tão populares como a Internet, capazes de interferir diretamente no todo social. A impressão que se tem é que a informática está construindo democraticamente uma linguagem universal. Essa nova linguagem tem se desenvolvido mesmo é nas salas de bate-papo que são os "locais" favoritos dos internautas que buscam comunicação com rapidez, agilidade e eficiência. Ali, os usuários podem conversar em tempo real, com várias pessoas simultaneamente. Existem grupos que se encontram todos os dias e fazem amizades que se estendem por anos. Através do computador muitas pessoas encontram amigos, namorados, amantes ou apenas conhecidos para bater um papo eventualmente. E algumas até saem do computador para encontrar-se de fato. São salas de pessoas de uma mesma cidade, são salas com possibilidade de enviar imagens de pessoas interessadas em sexo (todos os tipos possíveis e imaginários), cultura ou os mais diversos assuntos. São pessoas que se encontram por idades, para namorar, para falar de sexo. São escolas que se reúnem nessas salas virtuais para discutir os mais diversos assuntos. São pessoas interessadas em falar sobre novela, cinema, teatro, literatura, quadrinhos, TV, poesia, música. São aqueles interessados em futebol, em artes marciais, em esportes radicais. Há possibilidade de se encontrar para treinar línguas estrangeiras. São aqueles interessados em tecnologias: games, hackers, linux, software, Macintosh, design. E ainda os esotéricos dispostos a falar sobre anjos, astrologia, bruxaria, numerologia, ocultismo, tantra, tarô, ufologia, vampirismo. São os religiosos: adventistas, batistas, católicos, cristãos, ecumênicos, espíritas, e ateus. Há também encontro nessas salas virtuais por profissões: Concursos, desempregados, advogados, arquitetos, bancários, biólogos, cientistas, dentistas, médicos, professores... e tem ainda salas com papo livre. A Internet é sem dúvida o espaço mais democrático, que está sendo construído pela humanidade até hoje. Para efeito de ilustração segue um trecho de um momento em uma sala de bate-papo: Vini-RJ 18:16:40 tete 18:16:50 Anônimo2 18:16:51 Tamy 18:17:02 Capital Inicial 18:17:03 Diego Lujan 18:17:06 Vini-RJ 18:17:12 E eu to em casa 18:17:31 Vini-RJ 18:17:52 E eu to em casa 18:18:04 tete 18:18:13 Capital Inicial 18:18:29 Dan 18:18:33 Bruno 18:18:36 E eu to em casa 18:18:46 Bomberman 18:18:58 Capital Inicial 18:18:58 Diego Lujan 18:19:00 Bruno 18:19:43
Referências Bibliográficas
THORELL, Anita. Batendo um papo pela Internet. Editorial Acessado em 31/10/2004 VIANA, Melissa Elias. A Linguagem dos Chats Desafia os Newbies. Internewwws, julho/2000. Acessado em 31/10/2004
[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1° e 2° grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2° grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO-MEC - NTE-MG2 [2] Octavio Ianni, Teorias da Globalização, 5ª edição, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1999, p. 125. |