EDUCAÇÃO & LITERATURA
JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO |
A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE HOJE (Uma leitura do III Congresso Internacional de Educação realizado em Belo Horizonte MG, em 15/09/2005) |
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Josué Geraldo Botura do Carmo[1] Setembro/2005 "... educação deve servir para que as pessoas e os grupos atuem no mundo, e para que se sintam bem atuando nesse mundo: conhecendo-o, interpretando-o, transformando-o, em uma relação fértil e criativa entre as pessoas, esses grupos e o ambiente". Braslavsky p.11 A rápida mudança do mundo com o advento da sociedade da informação e da comunicação traz consigo novos desafios educacionais para o século XXI, com a necessidade de uma educação de qualidade para todos, pois todos estão tomando consciência de que a educação de qualidade é um direito inalienável, e que nenhuma forma de educação excludente merece ser qualificada como de qualidade. O acesso massivo aos sistemas educacionais tem causado uma maior inclusão e um deslocamento cada vez maior pela demanda de uma educação com qualidade. Grupos populacionais que antes não tinham acesso nem mesmo à educação primária, hoje já permanecem anos nos sistemas educacionais. Não é possível que a escola continue atuando com modelos criados em séculos passados, que não são mais capazes de atender às demandas do presente momento. Cabe aos educadores conhecerem o mundo tal como é hoje, para que se possa ter uma visão das perspectivas futuras. Precisamos fazer uma reflexão de como as pessoas se sentem no mundo neste momento e qual a capacidade que julgam ter para transformá-lo e encontrar nele um lugar para si. Vivemos um momento inédito, cheio de surpresas inevitáveis[2]: tendências que a grande maioria das pessoas não esperava e que pouco a pouco tornam-se cada vez mais evidentes. Estas tendências estão estritamente ligadas a questões relacionadas ao conhecimento, aos avanços tecnológicos e suas implicações. Dessa forma assistimos à possibilidade de um aumento consistente na expectativa de vida das pessoas, implicando também em uma melhor qualidade de vida, e idosos com uma vida ativa, ocupando postos de trabalho. Isso nos traz preocupações: como os jovens vão se integrar ao mercado de trabalho, se os mais velhos não vão embora e o mercado não se expande? Uma outra surpresa é o aumento e a aceleração da mobilidade das pessoas. Muitas já vivem em um determinado país e trabalham para empresas ou pessoas que vivem em outro. Esse processo de deslocamento físico ou virtual das oportunidades de trabalho beneficiará os que estejam mais preparados para essa mobilidade: aqueles capazes de interagir melhor interculturalmente, que conhecem mais idiomas e com capacidade de utilizar as novas tecnologias com perspicácia, e que tenham flexibilidade. Enfim, todos aqueles capazes de estabelecer conexões cognitivas através da mobilidade virtual, e emocionalmente aos problemas de seu entorno físico imediato. O conhecimento hoje cresce de maneira exponencial. Parte dos conhecimentos mais significativos não existia quando os professores atuais se formavam para exercer sua profissão. Cada vez mais conceitos e procedimentos devem ser aprendidos e desaprendidos ao longo de nossas vidas. Da mesma forma assistimos ao aumento das comunicações de forma exponencial. Estamos cada vez mais próximos do mundo todo, em uma velocidade nunca vivida antes. Cada ponto do planeta associa-se a outros por diversos mecanismos, provocando interdependências, provocando a competitividade internacional e o aumento da desigualdade social, embora haja perspectivas de formas de cooperação. Essas surpresas inevitáveis modificam significativamente o lugar das pessoas no mundo e o perfil educativo que as pessoas necessitam e demandam. E podemos afirmar que uma educação de qualidade para todos poderá combater a desigualdade, a violência e promover restauração do meio-ambiente. Pois somente uma educação de qualidade para todos poderá difundir uma aprendizagem em alta escala daquilo que é necessário para uma vida melhor no planeta, evitando catástrofes e estimulando tendências favoráveis para uma melhor qualidade de vida para todos. Assim as escolas psicológicas e pedagógicas consideram dimensões da possibilidade de uma pessoa ser feliz, de sentir que tem um lugar legítimo no mundo: a capacidade de explicar a própria vida e o mundo, a auto-estima e a estima pelos outros, a possibilidade de realizar um projeto, o domínio das capacidades necessárias para concluir um projeto, e estratégias para relacionar-se com os demais de maneira saudável. Para tal precisamos ter acesso a informações sobre o passado, reconhecer nossas capacidades e nossas limitações, reconhecer o que se pode e o que não se pode fazer. A escola precisa repensar o seu tempo e o seu espaço. A educação de qualidade para todos deve ser hoje uma educação prática, racional e emocional: que permita que todos aprendam o que necessitam aprender, no momento oportuno de sua vida e de suas sociedades, e que façam com felicidade, com capacidade de atravessar momentos de confusão, de tristeza e de sofrimento para conquistar objetivos desejados de perspectiva e transcendência, em suas mais variadas formas. Uma educação relevante para as pessoas, tanto objetivo quanto subjetivamente, que permita construir um sentido profundo e valioso de bem-estar e alcançar esse bem-estar durante o tempo em que estão na escola e quando saem dela. É preciso que os governos valorizem a educação de seus povos e sua capacidade de aprendizagem, seus professores e professoras, como fazem os países campeões da qualidade da educação: Finlândia, Suécia, Bavária, Canadá, Japão e Coréia, segundo pesquisa do PISA[3]. Estimados por suas sociedades esses professores e professoras têm maior auto-estima e não se culpam por seus erros, e sim os corrigem e tiram proveitos deles. E esses profissionais que não se culpam de seus erros também não culpam seus alunos pelos erros que esses possam cometer, criando dessa forma um clima de bem-estar e felicidade. A convicção sobre as possibilidades da educação faz com que os professores valorizem seus alunos, independente de suas origens e de sua diversidade. O trabalho em equipe em todos os níveis da escola como também em forma de alianças com outros agentes educacionais: família, empresas, meios de comunicação, pode também ser a chave do sucesso de uma educação de qualidade. Para mim o que ficou bastante visível em termos de Brasil neste III Congresso Internacional em Belo Horizonte - MG é que temos uma população pouco letrada, daí a dificuldade da alfabetização das crianças. E que é de grande responsabilidade da escola, juntamente com políticas públicas sérias de barateamento e de distribuição de livros, jornais, revistas e de outros materiais impressos, pois a escola sozinha não dá conta de alfabetizar uma geração toda sozinha, uma vez que a família pouco tem podido colaborar, por falta de condições mesmo de fazê-lo. É preciso dedicar muita atenção e carinho neste momento a esta questão, e uma vez termos uma geração alfabetizada, este problema não existirá mais, pois todas as crianças já irão para a escola letradas, como acontecem com aquelas que não têm dificuldade neste aspecto, porque vêm de famílias letradas, convivem com pessoas que fazem uso da leitura e da escrita, não tendo assim dificuldade de assimilação dessa linguagem. É preciso frisar neste texto que se conseguirmos alfabetizar uma geração acabaremos por vez com o problema do analfabetismo, como fizeram Cuba e Rússia. E a leitura é um veículo de transmissão de informações, é uma oportunidade para a reflexão, para a comunicação das emoções, e de instruções práticas. A leitura vai possibilitar a construção de seres mais autônomos e independentes, capazes de realizar conexões. E lembramos aqui Manuel Castells quando ele afirma que hoje o nível de desenvolvimento de um país é medido pelo seu grau de conexão. E o problema educacional brasileiro parece não ser, pela minha observação e experiência, um problema de métodos e técnicas de ensino, mas um problema de estrutura da escola. A alma do brasileiro é livre demais para adaptar-se a uma estrutura tacanha de sala de aula e à hierarquia da estrutura educacional.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA III Congresso Internacional de Educação – Ler sem limites. Belo Horizonte: 15 de setembro de 2005. BRASLAVSKY, Cecília. Dez fatores para uma educação de qualidade para todos no século XXI[4]. Madri: Fundación Santillana. São Paulo: Editora Moderna, 2005. CARMO, Josué Geraldo Botura do. Grau de conexão & nível de desenvolvimento. <http://planeta.terra.com.br/educacao/josue> Acessado em 16/9/2005 [1] Pedagogo formado pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador pelo PROINFO - MEC - NTE-MG2. [2] SCHWARTZ, Peter. Inevitable surprises: Thinking ahead in a time of turbulence. New York, Gotham Books, 2001. [3] O Programa Internacional de Avaliação de Alunos – PISA – é um programa de avaliação comparada, cuja principal finalidade é produzir indicadores sobre a efetividade dos sistemas educacionais, avaliando o desempenho de alunos na faixa dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. No Brasil, o PISA é coordenado pelo Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais “Anísio Teixeira”. [4] Semana Monográfica da Educação – Madri, 2004.
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