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ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE CURRÍCULO E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

 

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Setembro/2006

O currículo realmente é um instrumento político de poder e controle social sobre a produção do conhecimento. Ele transmite visões de mundo e reproduz valores que são responsáveis pela formação de identidades individuais e sociais. A escolha dos conteúdos curriculares seja conceituais, temáticos ou de valores morais passam por essas relações.

No cotidiano o que podemos constatar é que os currículos escolares continuam omitindo informações sobre a presença e participação dos negros na história do Brasil, pois isso é de interesse da classe dominante, haja visto que os alunos pretos ou pardos são ainda os que possuem os mais baixos rendimentos escolares. Observamos no cotidiano pouca atenção à valorização dos negros no currículo: os trabalhos propostos na escola que falam do povo africano estão restritos às comemorações de 13 de maio e 20 de novembro, e “não se fala mais nisso”. O negro e o mestiço se sentem inferiorizados neste ambiente escolar onde sua imagem é omitida ou mostrada de maneira negativa como falta de prestígio social e histórico.

Os livros didáticos tratam ainda de maneira superficial essas questões étnicas-raciais, não há destaque do negro em cartazes em sala de aula, mesmo na escola em que trabalho onde 42% dos alunos declarados são pretos ou pardos de acordo com o senso escolar de 2006. 39% dos alunos não declararam cor/raça. Veja gráfico abaixo:

Senso escolar 2006 – Escola Municipal Maria das Graças Teixeira Braga

Percebemos também, ainda que camuflados, o preconceito racial entre colegas e entre professores e alunos, através de valores morais explicitados nos olhares, gestos, apreciações e repreensões de condutas, aproximações e repulsas de afetos, legitimações e indiferenças em relação a atitudes, escolhas e preferências. Estes alunos negros e mestiços são submetidos dessa forma a uma violência simbólica em suas experiências escolares.

São questões pouco discutidas pelos professores na escola em que trabalho. Essas questões são tratadas como se não existissem em nosso ambiente escolar. Silenciamos. Ou por não sabermos como tratá-las ou por sermos coniventes com a idéia de que o branco é realmente superior. Em geral, na escola em que trabalho, nós temos dificuldade no trato com as diferenças, nossa mentalidade é ainda a mentalidade do colonizador.

Com esse curso eu fico pensando: Como vou poder influenciar nessa mudança de atitude e até que ponto vou conseguir influenciar?

De acordo com pesquisa feita junto às supervisoras da escola em que trabalho cheguei a seguinte conclusão: estas questões étnico-raciais não estão formalizadas no Projeto Político Pedagógico através do currículo. Só acontecem na escola por ocasião das comemorações pelo “Dia da consciência negra”, através de atividades sobre o tema. Outras raças ou etnias vão estar presentes na escola por ocasião de eventos como a Copa do Mundo, as Olimpíadas e outros. Para uma das supervisoras a escola reproduz uma discriminação já existente na sociedade.

Eu trabalho em uma sala de informática (informática aplicada à educação na linha do PROINFO) onde são desenvolvidos projetos interdisciplinares elaborados por diversos professores de todas as disciplinas. Este ambiente é freqüentado por alunos de duas escolas: uma escola de primeira infância a 4º ano escolar, e outra escola de 5º a 8º ano escolar. Não temos nesse tempo todo, desde 1999, nenhum projeto específico sobre as relações étnico-raciais, nem a cultura negra ou a história do povo africano. Temos sim trabalhos de pesquisas pelos alunos em alusão às datas de 13 de maio e 20 de novembro. Parece que estas questões são trabalhadas apenas como conteúdo a ser registrado como matéria dada. Eu apenas disponibilizo material e oriento na elaboração e formatação dos trabalhos, independe de mim os assuntos a serem trabalhados.

 


[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO - MEC NTE MG2.