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EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

A INFORMÁTICA APLICADA À EDUCAÇÃO E

AS POLÍTICAS PÚBLICAS

 Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Maio/2002

 

 

 

 Os Parâmetros Curriculares Nacionais vão apontar para a necessidade da educação se posicionar na luta de frente contra as exclusões, contribuindo para a promoção e integração de todos os brasileiros, como prática efetiva.[2]  

Desde o segundo quarto do século XIX a civilização ocidental vem criando tecnologias na área de comunicação para agilizar o contato entre as pessoas, com a finalidade de superar o espaço e o tempo. Tivemos o telégrafo de Samuel F.B. Morse, em 1836, o telefone de Alexander Graham Bell em 1838. Na segunda metade do século XX, convergindo interesses científicos e militares, foram feitos volumosos investimentos em pesquisa para agilizar o processamento, gerenciamento e automação de informações, que deu origem ao computador, e a Internet que é a união entre a telecomunicação e a informática (telemática). Com estas transformações está havendo uma significativa mudança na vida econômica, política, social e cultural do século XXI, podendo-se afirmar que está sendo construída uma nova sociedade: a Sociedade da Informação.  

Diante dos novos paradigmas que o atual contexto histórico mundial apresenta, o governo brasileiro fez um diagnóstico e um prognóstico da situação informacional brasileira, expressando sua preocupação sobre como universalizar o acesso aos serviços para a cidadania. Nesse documento são apresentados três grandes frentes para a universalização do acesso aos serviços da Internet: “educação pública”, “informação para a cidadania” e “serviços de acesso público à Internet”[3] 

Para que se atinja esses objetivos que vão permitir um avanço econômico de nosso país, pois uma população pensante e participativa produz mais e gera mais riquezas, é preciso que se aplique verbas para reformas da infra-estrutura física das escolas, no redirecionamento dos objetivos educacionais, na capacitação de professores. E  o desenvolvimento de novas metodologias apoiadas nas mídias trará sem dúvida grandes impactos na formação educacional do cidadão do século XXI. 

Pierre Lévy vai dizer que:  

“O ciberespaço, interconexão dos computadores do planeta, tende a tornar-se a principal infra-estrutura de produção, transação e gerenciamentos econômicos. Será em breve o principal equipamento coletivo internacional da memória, pensamento e comunicação. Em resumo, em algumas dezenas de anos, o ciberespaço, suas comunidades virtuais, suas reservas de imagens, suas simulações interativas, sua irresistível proliferação de textos e de signos, será o mediador essencial da inteligência coletiva da humanidade. Com esse novo suporte de informação e de comunicação emergem gêneros de conhecimentos inusitados, critérios de avaliação inéditos para orientar o saber, novos atores na produção e tratamento dos conhecimentos. Qualquer política de educação terá que levar isso em conta.”[4]

E Lévy continua em outro momento:  

“Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informação. As relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência depende, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação, aprendizagem, são capturadas por uma informática cada vez mais avançada. Não se pode mais conceber a pesquisa científica sem uma aparelhagem complexa que redistribui as antigas divisões entre experiência e teoria. Emerge, neste final de século XX, um conhecimento por simulação que os epistemologistas ainda não inventariaram.”[5]

Com relação à informação para a cidadania é preciso criar conteúdos que facilitem a vida do cidadão. E os principais setores que poderão contribuir para isso são os setores de seguridade social, saúde e educação. Necessário se faz também o incentivo à montagem de pontos de acesso público à Internet: telecentros, quiosques, bibliotecas públicas, cibercafés, cabines públicas, etc. 

A informática aplicada à educação no Brasil teve início, segundo Maria C. Moraes[6], no Seminário de Física em 1971 onde se discutiu o uso do computador, e criou-se a partir daí a SEI, Secretaria Especial de Informática, que tinha, dentre outras atribuições assessorar o Ministério da Educação e Cultura (MEC) no estabelecimento de política e diretrizes para a educação na área de informática. No ano de 1982 o MEC buscou criar mecanismos para fomentar pesquisas que estudassem o desenvolvimento de projetos nas áreas de capacitação de recursos humanos, de desenvolvimento de metodologia educacional apoiada nas novas tecnologias (computador e redes) e desenvolvimento de software educacionais. 

O EDUCOM foi o primeiro projeto brasileiro de informática na educação e tinha como proposta fomentar a implantação experimental de centros-pilotos com infra-estruturas relevantes  para o desenvolvimento de pesquisas, objetivando a capacitação nacional e coleta de subsídios para uma futura política setorial. No ano de 1986 foi criado o Projeto FORMAR, que ofereceu curso de especialização em Informática na Educação, em nível de pós-graduação, lato sensu, realizado na UNICAMP, em 1987 e 1989. E no ano de 1987 foram criados os CIED, Centro de Informática Educativa, com o objetivo de formar recursos humanos multiplicadores nos estados brasileiros para trabalhar com professores do Ensino Fundamental e Médio. O PRONINFE é instituído em 1989, com a finalidade de desenvolver a informática educativa no Brasil, através de projetos e atividades, articulados e convergentes, apoiados em fundamentação pedagógica sólida e atualizada. Em novembro de 1996 a Secretaria de Educação a Distância, SEED/MEC lança o Programa Nacional de Informática na Educação – PROINFO com os objetivos de melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem; possibilitar a criação de uma nova ecologia cognitiva; proporcionar uma educação voltada para o desenvolvimento científico e tecnológico; e educar para uma cidadania global numa sociedade tecnologicamente desenvolvida. 

Nesses 30 anos, o Brasil vem buscando implantar a tecnologia informacional no processo pedagógico do sistema educacional público, com dificuldades financeiras, técnicas, humanas, etc.  

É preciso despertar as autoridades públicas para a necessidade de se promover a diminuição das diferenças sociais e culturais de seus cidadãos através da universalização da educação e da melhoria da qualidade do ato pedagógico, investindo maciçamente em recursos informacionais e na capacitação de professores, conscientizando-os da importância econômica que isso implicará, pois essa população certamente produzirá mais, gerando mais riquezas para o município, para o estado e para o país. 

Quanto à discussão pedagógica da utilização da informática passa primeiramente pela discussão dos conceitos básicos que essa nova tecnologia impõe. É preciso refletir antes de tudo sobre os papéis dos professores e alunos diante dessas novas tecnologias. Assim, a Psicolingüista Emília Ferreiro vai dizer que é preciso respeitar e conhecer a experiência lingüística que a criança traz para a escola, para depois determinar estratégias para alfabetiza-las. O Educador Celestin Freint dirá que ninguém avança sozinho em sua aprendizagem. Para ele a cooperação é importante. O educador Paulo Freire vai dizer que o papel do educador é o de animador, mediador, um provocador de discussões e reflexões, para que o educando seja capaz de ler criticamente o mundo. O psicólogo Howard Gardner diz que o professor deve valorizar as diferentes inteligências dos alunos: lógico-matemática, lingüística, espacial, físico-cinestésica, interpessoal, intrapessoal e musical. O cientista Natural Jean Piaget, afirma que é na relação de interação com o meio que a criança se desenvolve e constrói hipóteses sobre o mundo que a cerca. E por fim o intelectual Vygotsky, defende que o desenvolvimento da pessoa é fruto de uma grande influência das experiências do indivíduo e cada um dá um significado particular a essas vivências. Cada um aprende o mundo de forma individual. Essas idéias é que vão servir de pano de fundo para reflexões sobre a aplicação da informática na educação. 

Sem sombras de dúvida é a Internet uma das conquistas tecnológicas mais revolucionárias da atualidade e por isso merece ser olhada como objeto de estudo e pesquisa na área educacional tanto no campo do ensino a distância quanto no campo de apoio ao ensino presencial. É preciso que reconheçamos a sua importância tanto na construção do conhecimento como na integração do indivíduo, uma vez que as comunidades virtuais são espaços onde se desenvolvem o espírito de cooperação e autonomia, base para construção coletiva do conhecimento. 

Dessa forma, para que a escola cumpra sua função de contribuir para a formação dos indivíduos que possam exercer plenamente sua cidadania, participando dos processos de transformação e construção da realidade, produzindo mais e gerando mais riquezas; deve estar aberta e incorporar novos hábitos, comportamentos, percepções, demandas e tecnologias.  

Essa nova mentalidade na educação vai contribuir para a geração de seres pensantes, participativos, produtivos, capazes de gerar riquezas; vai contribuir para a sobrevivência da pesquisa científica no Brasil e para manter a soberania tecnológica do país.

  

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

Projeto Político Pedagógico de Informática Aplicada à Educação da Rede Municipal de Ensino de Brusque – SC

e-mail: prefeitura@brusque.sc.gov.br

Praça das Bandeiras, 77, Centro.

            CEP: 88.350-050 – Brusque – SC

            Fone: (0xx47) 251 – 1833

VER TAMBÉM:

IMPLANTAÇÃO DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:

ESTRUTURA FÍSICA, HUMANA E POLÍTICAS PÚBLICAS

 


 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO - MEC – através do NTE - MG2.

[2] Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais: MEC, 1998, p.5 e 21.

[3] BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Universalização de Serviços para a Cidadania. IN: Sociedade da informação no Brasil: Livro Verde. Brasília: MCT, set 2000. p.33.

[4] LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2000. p.167

[5] ________ As tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 1999.

[6] MORAES, M.C. Informática Educativa no Brasil: uma história vivida, algumas lições aprendidas. In: Revista Brasileira de Informática na Educação. Florianópolis: ISBN 1414 – 5685. UFSC, n. 11 – set.97 – p.19-44