EDUCAÇÃO & LITERATURA JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO |
ALIENÍGENAS NA SALA DE AULAJosué Geraldo Botura do Carmo[1]Novembro/2001 |
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BILL GREEN & CHRIS BIGUM (1995) exploram a tese de que está emergindo uma nova geração, com uma constituição radicalmente diferente. E as questões levantadas são as seguintes: estão as escolas lidando com estudantes que são fundamentalmente diferentes dos/as de épocas anteriores? E têm as escolas e as autoridades educacionais desenvolvido currículos baseados em pressupostos essencialmente inadequados e mesmo obsoletos sobre a natureza dos/as estudantes? Necessário se faz compreender a emergência de um novo tipo de estudante, com novas necessidades e novas capacidades. É preciso antes de qualquer coisa compreender a presente configuração social como uma condição cultural específica: a pós-modernidade - momento em que se descobre que os elementos que sempre foram pensados como sendo componentes invariantes essenciais da experiência humana não são fatos naturais da vida, mas construções sociais. Para aqueles que vivem o pós-modernismo a desnaturalização do tempo significa que eles não têm história, é viver num mundo de momentos presentes e desconectados, momentos que se chocam, mas que nunca formam uma progressão contínua e muito menos lógica, como bem definiu HAYLES[2] em 1990. É preciso cada vez mais pensar de forma diferente da que se vem pensando, revendo nossas prioridades, nossos investimentos, nossos compromissos e nossos desejos. É preciso examinar o estudante-sujeito pós-moderno no contexto mais amplo do currículo, levando em conta o cenário educacional e cultural mais amplo existente fora do sistema formal de escolarização, tendo em vista o deslocamento da escola para a mídia eletrônica de massa, especialmente a televisão, o computador e o vídeo, como organizadores ou reorganizadores da ação e do significado humanos. É um novo mundo completamente diferente, constituído pelas culturas do robô, dos cyborgs (organismo cibernético, híbrido de máquina e humano – uma criatura de realidade social e ao mesmo tempo de ficção), das quimeras, dos extraterrestres...E do pós homo sapiens como define DATOR[3]. Para os autores a juventude era vista antes como uma fase passageira, um estágio temporário no movimento em direção à normalidade que chegava com a fase adulta e essa passagem ordeira tornou-se agora carregada de uma incerteza arbitrária. Os alienígenas não estão apenas nos visitando e indo embora, eles estão aqui para ficar e estão assumindo o comando. E fica a interrogação: Quem são os alienígenas? Os/as alunos/as ou os professores/as? Parece que somos nós que estamos sendo cada vez mais transformados em “outro/a”. O que podemos constatar é que um novo tipo de subjetividade humana está se formando a partir do nexo entre a cultura juvenil e o complexo crescente global da mídia. Está sendo construída uma identidade inteiramente nova, corporificada em novas formas de ser e tornar-se humano. Uma nova relação entre a escolarização e a mídia está sendo construída, com todos os problemas e possibilidades. E o currículo tende a se desviar da escola, ela que até então funcionou como o mecanismo central da socialização da fase pré-escolar à fase pós-escolar (entrada no mercado de trabalho). Como educadores somos levados a avaliar o nexo cada vez mais importante entre a cultura da mídia e a escolarização pós-moderna, assim como os movimentos em direção à informatização e à tecnologização do currículo. Devemos avaliar aquilo que já está ocorrendo em nossas salas de aula, quando os alienígenas entram e tomam seus assentos, como criaturas surgidas debaixo da terra. E há aqueles que vêem a cultura popular como o outro demoníaco da cultura alfabética e valorizam a cultura literária em relação à televisão, a cultura impressa em detrimento à cultura visual. DATOR[4] em 1989 vai identificar a diferença entre os alfabetizados na mídia versus os alfabetizados no impresso, como um dos principais fatores de transformação do cenário atual e ele desconfia que nós, condicionados a vida toda a pensar como um livro não seremos capazes de lidar com essa diferença. E vai afirmar que vivemos no interior das agonizantes culturas impressas e das emergentes culturas audiovisuais. E nós que distorcemos ou destruímos as sociedades pré-alfabéticas com nossa cultura impressa, somos os mesmos que ignoramos, desprezamos, ou simplesmente não podemos compreender aqueles que podem aprender a pensar e a expressar seus sentimentos através de imagens holográficas em movimento. Embora partilhemos com os jovens um espaço geofísico comum, achamos difícil partilhar os muitos espaços ou mundos virtuais que eles habitam no ecossistema digital. Com o advento da comunicação instantânea: satélite, TV, fibra ótica, telemática, vivemos em um espaço-velocidade e neste espaço projeta-se virtualmente receitas, previsões do tempo, cotações da bolsa, discussões políticas, idéias religiosas e fantasias sexuais. E o texto se confunde com o contexto. E a escola que se tornou um importante espaço nesse cenário, um dos alvos primeiros da comercialização de produtos de tecnologia de informação, exerce agora um papel cada vez mais importante no uso das novas tecnologias da informação. A ecologia digital em que nos encontramos desenvolveu-se ao redor de nós e nós nos adaptamos a ela, alguns mais prontamente que outros. Nossos jovens nasceram nela e este é o seu ambiente natural. O que temos é que ter muita humildade diante do reconhecimento da inevitabilidade da diferença, porque não há como voltar atrás. E nem ficar classificando imagens positivas e negativas. É muito complexo viver nos novos tempos, repleto de mundos virtuais.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
GREEN, Bill. BIGUM, Chris. Alienígenas em sala de aula (Trad. Tomaz Tadeu da Silva). Tomaz Tadeu da Silva (org.) Petrópolis RJ: Vozes, 1995. Pg. 206-43. [1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º grau. Professor facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO - MEC [2] HEYLES, N.K. Chaos bound:Ordely disorder in contemporany literature and science. Ithaca, Cornell University Press, 1990. [3] DATOR, J. “What do ‘you’ do when your robot bows, as your clone enters holographie MTV?”. Future. 1989, 2(4), 361-5 [4] idem |