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FLORESTAN FERNANDES E A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Outubro/2002

EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

 

 ... “você pensa que revolucionário é o seu socialismo. Engana-se. Revolucionária é a democracia. O socialismo no máximo pode ser um dos conteúdos da democracia. A democracia é revolucionária porque é um regime sempre incompleto, sempre a fazer-se, aberto e plural, mas tudo isso na direção de uma sociedade com igualdade de oportunidades. E mais: para a sua prática efetiva, somente quando haja muita cultura e uma sociedade educada”.

Anísio Teixeira[2]

 Para o sociólogo Florestan Fernandes, segundo Otávio Luiz Machado Silva (1998), a transformação da Educação vai depender de uma transformação global e profunda da sociedade.

Florestan é o fundador da Sociologia Crítica no Brasil que vai trazer a reflexão sobre a responsabilidade ética e política do sociólogo, pensando a realidade social a partir da raiz.

 

Na educação Florestan vai criticar a pedagogia tradicional, que criava um educador distante do processo social e não engajado na tarefa de transformação da sociedade. Influenciado por Dewey e pelo seu discípulo (de Dewey), Anísio Teixeira, Florestan defendeu uma escola pública de qualidade acessível a todos os brasileiros.

 

Para ele não existe Estado e sociedade democrática sem uma Educação democrática. E a escola pública gratuita é a única capaz de promover a democracia. E para isso a Educação precisa estar vinculada ao pensamento socialista, para que possa ser a chave da construção coletiva de formas mais simples e compensadoras de sociedade e de civilização.

 

Para ele o socialismo configura-se como fundamento de outro tipo de educação e de uma nova civilização, calcada em valores que acabem com a objetificação e desumanização do homem pelo homem, próprio do capitalismo. O socialismo poderia em sua opinião ensinar alguma coisa ao capitalismo. Precisamos criar condições para corrigir e superar as desigualdades que foram criadas no decorrer dos séculos, construindo uma sociedade civil não civilizada, aumentando o poder das classes privilegiadas e das nações que drenam os recursos materiais e humanos do Brasil para as suas economias – dizia ele.

 

“Democratizar o ensino” para ele é universalizar as oportunidades educacionais, é a transformação das técnicas e dos métodos pedagógicos, é a interação aberta e construtiva da escola com as necessidades e interesses sociais dos círculos humanos a que ela serve. Dizia que o aspecto central do processo de democratização do ensino está na distribuição eqüitativa das oportunidades educacionais. Daí a necessidade de se abolir as barreiras extra-educacionais que restringem o uso do direito à educação. Para ele a educação é o problema mais grave do Brasil, e a solução é a manutenção de uma escola pública e gratuita que permita o acesso dos pobres e miseráveis, condenados ao analfabetismo.

Em sua opinião devemos deixar de desperdícios de recursos materiais e humanos para podermos atender às necessidades de uma sociedade em rápida transformação e uma educação emancipatória capaz de construir uma sociedade democrática.

Para Florestan não há nem crescimento econômico, nem desenvolvimento social, nem progresso cultural sem uma paralela integração das escolas nos processos de mudança social.

Para ele o Estado deveria ir, no campo da educação, além da criação de escolas e da fiscalização das mesmas, deveria alterar sua filosofia e organização, estancar a falta de recursos, a má organização e administração, de modo que torne a escola capacitada a empregar em seus quadros mais alunos, principalmente das classes mais baixas, alunos que são excluídos, expulsos, por não terem uma escola adequada para atender aos seus interesses. Ele queria que a educação fosse tratada como um problema-social. Para ele o processo educativo deve ser dirigido não apenas à adaptação, mas à transformação social.

Para ele a Universidade deveria tender para a pesquisa e não para o ensino para que não fosse uma mera reprodutora de saber, sem criatividade e originalidade para poder ser capaz de promover a mudança social. Pois para ele a universidade tem um peso decisivo na democratização e reestruturação da sociedade brasileira.

A democracia em sua opinião é um regime que não é dado ao povo, mas conquistado através da organização em associações, sindicatos e partidos políticos.

“Pensar politicamente é alguma coisa que não se aprende fora da prática. Se o professor pensa que sua tarefa é ensinar o ABC e ignora a pessoa de seus estudantes e as condições em que vivem, obviamente não vai aprender a pensar politicamente ou talvez vá agir politicamente em termos conservadores, prendendo a sociedade aos laços do passado, ao subterrâneo da cultura e da economia” (FERNANDES, 1986b, p. 24)[3].

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

TRABALHO REALIZADO PELO HISTORIADOR

OTÁVIO LUIZ MACHADO SILVA

QUANDO ALUNO-BOLSISTA

 PROFESSOR-ORIENTADOR: RONALD POLITO

Ouro Preto, abril de 1998.

A Educação na Assembléia Nacional constituinte sob a ótica de Florestan Fernandes: um estudo da participação popular nos quadros da democracia da Nova República. Capítulo I.

<http://www.florestaneducador.hpg.ig.com.br/index.htm>

Acessado em 19/10/2002


 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC – NTE MG2.

[2] Em contra-capa do livro Democracia: a grande revolução.

[3] A formação política e o trabalho do professor. In: CATANI, Denise B. et al. (orgs.). Universidade, escola e formação de professores. São Paulo: Brasiliense.