EDUCAÇÃO & LITERATURA JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO |
REDES: A MAIS NOVA PROPOSTA ORGANIZATIVA(UMA VONTADE COLETIVA DE REALIZAR DETERMINADO OBJETIVO ATRAVÉS DA LIVRE INFORMAÇÃO) Josué Geraldo Botura do Carmo[1] Janeiro/2002 |
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A mais significativa inovação humana no campo da organização da sociedade é a organização em redes. Essas organizações do terceiro setor operam nos níveis locais, regionais, nacionais e internacionais, trocando informações, realizando articulações políticas ou implementando ações conjuntas. São organizações sem chefe e sem “cabeça”, contudo fluidas, plásticas e dinâmicas. A sua força está em sua aparente fragilidade. Nossa cultura está fundamentada em uma estrutura organizacional em pirâmide. A organização neste caso se faz em níveis hierárquicos, onde cada nível superior comporta menos integrantes que no nível inferior, afunilando a partir da base, e no topo pode-se encontrar um único integrante – o “chefe”. No caso deste tipo de organização há uma concentração de poder e conseqüentemente de informação que é guardada para ser usada no momento oportuno, com vistas a se acumular e se concentrar mais poder. Esta forma de organização superpõe níveis de poder de decisão, e com ele a responsabilidade pela realização dos objetivos perseguidos. Esse poder e essa responsabilidade vão se concentrando, da base da pirâmide ao seu topo, passando por tantas instâncias intermediárias quanto o tamanho da organização o exigir. A base é composta por muitos com pouco poder e menos responsabilidade, e no topo estão poucos com muito poder e muita responsabilidade, comandando e controlando a ação dos inferiores. Na estrutura piramidal a informação circula verticalmente, por canais previamente determinados: de baixo para cima, para orientar decisões, ou de cima para baixo sob forma de ordens e orientações. E há a possibilidade de representação: cada nível da pirâmide se faz representar pelos que se encontram no nível que lhe é superior. Há delegação de poder – e com ele parte da responsabilidade. Nesta estrutura os dirigentes podem ser designados, de cima para baixo, ou por eleição, de baixo para cima. No caso das eleições é preciso observar, para se constatar o grau de democracia, como se apresentam as candidaturas, quem pode se candidatar, se a eleição é direta ou indireta, quem vota, qual o tempo do mandato, como se faz a renovação e como se pode destituir um responsável ou dirigente. O funcionamento mais ou menos democrático de uma organização piramidal depende da freqüência e do modo como seus dirigentes informam e consultam as bases, e do caráter mais ou menos verdadeiro dessas consultas e pelo respeito que esses dirigentes têm pelas opções das bases, dos meios de que estas dispõem para fazer valer sua vontade junto aos seus dirigentes. Essa estrutura organizacional contém dinâmicas perversas que podem dificultar a realização de seus objetivos e inclusive destruí-las a partir de dentro delas mesmas. A luta pelo poder e a competição que se estabelece para “subir” na pirâmide, com todas as manipulações, é um exemplo corriqueiro aos nossos olhos. Outra dinâmica perversa é o bloqueio – intencional ou não – da circulação de informações. Nessa organização os objetivos podem ser alcançados com a participação imposta, através da disciplina e do controle, usando a repressão sobre aqueles que não obedeçam ou reajam às ordens. E há aqueles também que ganham a adesão dos executores da ação através de técnicas de envolvimento que conduzem a uma aparente livre participação. Na organização em redes o poder se desconcentra e todos têm acesso à informação que se distribui e se divulga. Todos têm acesso ao poder que a posse da informação venha a representar. Seus integrantes se ligam horizontalmente a todos os demais, diretamente ou através dos que os cercam, formando uma malha de múltiplos fios, que pode se espalhar indefinidamente para todos os lados, sem que haja um nó principal ou central, nem representante dos demais. Não há um “chefe”, o que impulsiona esta organização é a vontade coletiva de realizar determinado objetivo. Todos têm o mesmo poder de decisão, porque decidem somente sobre sua própria ação e não sobre a ação dos outros. Não tem dirigentes e nem dirigidos, não tem aqueles que mandam mais e aqueles que mandam menos, e todos têm o mesmo nível de responsabilidade para com a organização enquanto nela permanecerem. O que dá consistência a uma rede são as informações que transitam livremente pelos canais que interligam seus integrantes. O que conta aqui é a lealdade de um para com todos, baseada na co-responsabilidade e na capacidade de iniciativa de cada um. Aqui não existe representação, cada membro da organização é autônomo em sua ação, mas responsável pelos seus efeitos na realização dos objetivos do conjunto. Seu caráter mais ou menos democrático vai se medir pela sua abertura à entrada de novos membros, e a possibilidade de cada membro se desligar quando quiser, sem que isso seja considerado como abandono ou traição. E também pela real liberdade de circulação de informações em seu interior: sem censuras, controles, hierarquizações ou manipulações. Essa estrutura organizacional em redes tornou-se cada vez mais possível com o progresso tecnológico. O mundo está se transformando numa imensa rede com cada vez menos barreiras à livre circulação de informações. A informática hoje possibilita rapidez na comunicação da informação e facilita a sua estocagem. Uma rede pode interligar pessoas, entidades, ou pessoas e entidades. Estas podem ser do mesmo tipo ou inteiramente heterogêneas, dependo dos objetivos da rede. Variam também de tamanho, pode ser uma rede de bairro, ou de sala de aula, até uma rede internacional. A interligação em rede, de pessoas e/ou entidades, se estabelece a partir da identificação de objetivos comuns e/ou complementares cuja realização melhor se assegurará com a formação da rede, visando a circulação de determinadas informações, a criação de laços de solidariedade ou a realização de ações em conjunto. Aqui a ação de seus membros é livre e consciente, sem o que a rede não pode se consolidar e nem se manter. A organização em rede vai propiciar o exercício da liberdade, responsabilidade e democratização da informação em detrimento aos padrões de dominação, competição, autoritarismo e manipulação que a cultura dominante introjeta em cada um de nós. “A própria noção de gratuidade e desinteresse pessoal, essencial para o desenvolvimento da solidariedade, ganha uma dimensão social mais realista: ela pode ser entendida numa perspectiva de reciprocidade aberta, na troca de informações – que são poder – feita através da rede. As redes se contrapõem portanto à cultura do "guardar para si" e do "levar vantagem", ao permitir que, pela colocação em comum do que cada um dispõe, todos ganhem”. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FRANCISCO WHITAKER [1] Pedagogo co habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador pelo PROINFO – MEC. |