"Sem
forma revolucionária, não há arte revolucionária”.
Maiakóvski
Segundo a autora o
saber se mostra hoje de forma volátil e fluido e o hipertexto poderá
contribuir para aumentar as práticas literárias. Para ela o
computador no ambiente educacional ainda causa estranhamento
e há muita
recusa cega à tecnologia.
A forma do
hipertexto eletrônico gera uma liberdade, pois ele apresenta um
campo vasto de possibilidades de leitura e escrita, podemos iniciar
e acabar o texto em diferentes pontos a cada leitura, é como se
estivéssemos em um labirinto. Isso não quer dizer que não haja
possibilidade de se montar um hipertexto impresso, com semelhantes
vôos. O hipertexto segundo a autora é a atualização de uma vontade,
de uma idéia, de uma aspiração de expandir os limites que cerceiam a
produção e o conhecimento humano.
Roland Barthes em
uma análise da novela Sarrasine de Honeré de Balzac
(1992) afirma que o texto ideal é aquele que apresenta redes que são
múltiplas e se entrelaçam, sem que nenhuma possa dominar as outras.
Um texto que oferece uma galáxia de significantes, e não uma
estrutura de significados: não tem início, é reversível, nele
penetramos por diversas entradas, sem que nenhuma possa ser
considerada principal.
Assim como a
imprensa mudou a tecnologia da escrita que era feita em pergaminhos,
o hipertexto eletrônico, a cibercultura traz inovações à teoria do
texto e vislumbra com a interatividade, o aparecimento de novos
gêneros.
O hipertexto é uma
forma revolucionária, uma nova modalidade de criação artística e
literária. Nos movimentamos de um site para outro com grande
velocidade e sem caminhos pré-estabelecidos. Para Pedro Barbosa
(1998) a poesia animada por computador, a literatura generativa e a
hiperficção delineiam três grandes linhas, gêneros ou tendências
dessa nova criação textual.
“O hipertexto
eletrônico desencadeou um outro processo de leitura e escritura
ampliando, no mínimo, nosso entendimento dos termos texto, autor
e leitor”.
É um texto sem
fronteiras nítidas, sem interioridade definível, posto em movimento,
envolvido em um fluxo, vetorizado, metamórfico, perdendo sua
afinidade com as idéias imutáveis que supostamente dominariam o
mundo sensível. O texto torna-se análogo ao universo de processo ao
qual se mistura, como diria Pierre Lévy
(1993) em As tecnologias da inteligência.
O texto perde sua
identidade singular nessa circunvolução da palavra. Há uma
facilidade na divulgação da produção, através de suportes magnéticos
como o disquete ou o CD-ROM, e sobretudo através da rede. A autora
dirá que o conhecimento agora é mais facilmente socializado e é a
qualidade dos textos que vai legitimar a fala do expositor, e não o
mercado editorial que lhe outorga direitos de divulgar ou não
determinadas produções.
E a estrutura
dinâmica do hipertexto eletrônico modifica as posições autor/leitor.
Há uma interatividade que o texto impresso não oferece. O leitor
passa a escritor e este a leitor, diluindo-se as fronteiras entre
quem escreve e quem lê. Cada usuário é um autor, leitor e editor em
potencial.
E é importante
observar que nenhuma tecnologia veio para usurpar o espaço da outra.
Todas convivem pacificamente, tendo cada uma seu público e sendo
utilizadas em situações diversas, conforme a necessidade do
indivíduo. As tecnologias mais avançadas geralmente absorvem as
conquistas das tecnologias anteriores, como exemplo, temos o cinema
cujo desenvolvimento estava respaldado na fotografia.
“É necessário
questionar qual é o lugar que nosso objeto de estudo ocupa no
contexto em que vivemos, qual seu papel histórico e social, quais
são as regras de seu funcionamento e suas especificidades, qual a
amplitude dessa nova tecnologia no contexto social.”
De acordo com
Pierre Lévy
(1996) a virtualização está ligada diretamente à
desterritorialização, do desprendimento do aqui e agora, que de
forma alguma deve ser tido como perda de identidade, mas sim como
uma multiplicação do "ser" e "estar".
As discussões on
line, os programas de televisão ao vivo, os debates via satélite
oportunizam a interação em tempo real. A unidade de tempo é
desfragmentada da unidade de lugar.
A virtualização
não se limita às comunicações, mas ela afeta os corpos, o
funcionamento econômico, os quadros coletivos da sensibilidade ou o
exercício da inteligência, segundo Pierre Lévy.
A modernidade
lutou por esse momento de dissuasão que se opõe ao embalssamento do
conhecimento. Com a hiperinflação informativa o espaço homogêneo
cedeu lugar à diferença, ao diverso. A dissuasão do singular deu
lugar ao pensar coletivo pululante tão desejado pela modernidade.
Vivemos hoje
em nosso meio social um movimento de virtualização que não se opõe
ao real, mas sobrevive ao lado deste.
E a autora finaliza seu artigo com estas palavras: “As
inovações tecnológicas são resultado das ações sociais; o homem é o
centro desse processo de conhecimento. As modernas tecnologias não
agem, simples e diretamente sobre esse tempo histórico, o homem não
está inerte nesse torvelinho. Pensar o mundo é pensar o homem que
está mergulhado nele. Tudo o que ocorre no tempo, que nasce, se
desenvolve e morre, pertence ao devir. O mundo revela-se governado
por um misturado que exige a posologia correta das virtudes morais e
intelectuais, e para tal precisamos nos manter sempre acordados e
num estado dinâmico de contínua descoberta”.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Adair de Aguiar Neitzel
Pesquisadora em literatura em meio eletrônico
UFSC /CNPq/SED-SC
adaneitzel@hotmail.com
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