“Tudo o que flui e derrama

dá prazer”

Deleuze & Guattari

 As tecnologias de comunicação têm provocado profundas mudanças em todas as dimensões da nossa vida. Elas vêm colaborando para modificar o mundo. A máquina a vapor, a eletricidade, o telefone, o carro, o avião, a televisão, o computador, as redes eletrônicas contribuíram para a expansão do capitalismo, para o fortalecimento do modelo urbano, e para a diminuição das distâncias. As tecnologias viabilizam novas formas produtivas.

A rede Internet, concebida a princípio para uso militar, foi implantada depois nas universidades, propiciando a criação de outras formas de comunicação não previstas inicialmente. Atualmente na rede todos buscam seus semelhantes, ninguém impõem o que deve acessar e tudo o que se imagina nela se encontra, cada vez mais acessível e com mais opções. O encantamento e o poder de sedução das tecnologias está na possibilidade de se poder criar para elas usos múltiplos e diferenciados, de podermos participar de uma interação entre o real e o virtual, cada vez mais intensa. A sociedade partindo do uso inicial previsto, parte para utilizações inovadoras ou inesperadas. Com as mesmas tecnologias podemos fazer coisas diferentes. No caso da Internet podemos nos comunicar enviando e recebendo mensagens, buscar informações, fazer propaganda, ganhar dinheiro,  divertir-nos, vagar curiosos. Conectados com milhares de computadores ao mesmo tempo em uma comunicação virtual, sem sair do lugar faço levantamento de dados (que já estão prontos), converso com pessoas que nem conheço, faço compras, etc. De forma instantânea e prazerosa.

Desponta um novo momento social, econômico e político. São novos valores que os referenciais teóricos com os quais avaliávamos tudo já não conseguem mais nos dar explicações satisfatórias. A miniaturização das tecnologias de comunicação vem facilitando a individualização dos processos de comunicação, o estar sempre disponível em qualquer lugar e horário. Isso reforça a ênfase do capitalismo no individual mais do que no coletivo, a valorização da liberdade de escolha, são forças poderosas, instintivas, primitivas dentro de nós.

“A tecnologia de redes eletrônicas modifica profundamente o conceito de tempo e espaço. Posso morar em um lugar isolado e estar sempre ligado aos grandes centros de pesquisa, às grandes bibliotecas, aos colegas de profissão, a inúmeros serviços. Posso fazer boa parte do trabalho sem sair de casa. Posso levar o notebook para a praia e, enquanto descanso, pesquisar, comunicar-me, trabalhar com outras pessoas à distância. São possibilidades reais inimagináveis há pouquíssimos anos e que estabelecem novos elos, situações, serviços, que, dependerão da aceitação de cada um, para efetivamente funcionar”.

Para atualização profissional há cursos a distância via computador, começamos a utilizar a videoconferência na rede. Muitas atividades que nos tomavam tempo e exigiam deslocamentos, filas, resolvemos hoje através da rede, de qualquer parte do planeta, praticamente.

A comunicação hoje se faz através de sons, imagens e textos, integrando mensagens e tecnologias multimídia. E o computador está integrando todas as telas antes dispersas, e tornando-se, simultaneamente, um instrumento de trabalho, de comunicação e de lazer. A comunicação vai se tornando mais sensorial, multidimensional e não linear. Em breve o som deixará de ser apenas um acessório, para ser parte integrante da narrativa.

Hoje podemos com todos esses recursos nos comunicar mais ou nos alienar mais. Depende de cada um de nós. E no campo da educação podemos fazer uso destas tecnologias tanto para reforçar uma visão conservadora, controlando mais, ou para assumirmos em maior intensidade uma visão progressista, propiciando  a interação.

Essas tecnologias vão modificar algumas funções do professor, deixando a tarefa de passar informações aos bancos de dados, aos livros, aos vídeos e programas de CD. O professor agora é um estimulador da pesquisa e um coordenador do processo de apresentação dos resultados desta pesquisa, questionando dados apresentados, contextualizando os resultados e adaptando-os à realidade dos alunos. Transforma informação em conhecimento e conhecimento em saber.

“As tecnologias permitem um novo encantamento na escola, ao abrir suas paredes e possibilitar que alunos conversem e pesquisem com outros alunos da mesma cidade, país ou do exterior, no seu próprio ritmo”. O processo de ensino-aprendizagem pode ganhar em dinamismo, inovação e poder de comunicação”.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

  

Novas Tecnologias e o Reencantamento do Mundo

José Manuel Moran
Professor de Novas Tecnologias
Artigo publicado na revista Tecnologia Educacional.
Rio de Janeiro, vol. 23, n.126, setembro-outubro 1995, p. 24-26.