EDUCAÇÃO & LITERATURA JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO |
AS NOVAS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E DA INFORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO DO FINAL DO SÉCULO PASSADO AOS DIAS DE HOJE Josué Geraldo Botura do Carmo[1] Março/2002 |
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No princípio, quando as novas tecnologias começaram a chegar nas escolas, por volta de meados da década de 90, a grande preocupação foi com o trabalho do professor. A questão que se colocava era: como fica o trabalho docente com a implantação das novas tecnologias da comunicação e da informação na educação? O computador seria capaz de substituir o professor? Seria a realização do sonho da máquina de ensinar de Skinner? (Essa idéia tecnicista fez com que muitos educadores reagissem contra o computador nas escolas). A idéia era que o computador ia desumanizar o ensino. Ou o professor teria um novo papel? Muito se pesquisou a esse respeito e se chegou a conclusão de que o professor de ditador de conteúdos passaria agora a orientador de pesquisa, principalmente com o advento da Internet, e a linguagem do hipertexto. E com o aperfeiçoamento do ensino a distância novas funções surgem para o professor tais como webmaster e webdesigner, além da necessidade de intensificar o trabalho em equipe entre os professores. Hoje a preocupação deixa de ser o trabalho docente para se centrar no pedagógico. O que se questiona hoje é: dá para se trabalhar com as novas tecnologias da comunicação e da informação na educação com os mesmos métodos e técnicas utilizadas anteriormente? Ou precisamos rever as questões pedagógicas para podermos entrar na era revolucionária do ciberespaço, com a linguagem hipertextual? Depois da revolução da escrita, depois da revolução da imprensa, esse novo momento é o marco de mais uma revolução da linguagem que vai implicar em outra forma de raciocínio, em uma nova forma de vida que desponta, com possibilidades de se viver em uma aldeia global. É certo que as tribos continuarão existindo nas florestas, que existirão grupos usando somente a linguagem oral, outros, já com a escrita, outros descobrindo a escrita impressa, e outros fazendo uso da linguagem do hipertexto, pela necessidade de manipular uma grande quantidade de informações. E nenhuma sociedade por causa disso será melhor ou pior que a outra, serão apenas diferentes. O caminho não é único, há diferentes opções, e nenhum grupo será superior ou inferior pelo seu modo de vida, apenas terão modos de vida diferentes. E a riqueza do mundo está nessa diversidade e no respeito aos diversos modos de se viver. A tecnologia em geral não é boa e nem má, nem neutra, nem necessária, nem invencível. O que podemos constatar é que está se formando uma geração com uma consciência globalizadora que conviverá com as outras tantas existentes no planeta. O conhecimento científico é apenas uma forma específica de cultura produzida dentro de uma determinada forma de vida, e a informática é ainda restrita a um tipo de segmento social da classe média dos grandes centros urbanos, escolarizada e intelectualizada. Contudo vamos nos deter no trabalho pedagógico que é o que nos interessa no momento. Hoje claro está que as novas tecnologias da comunicação e da informação podem ajudar no aumento do rendimento e da participação do aluno na trama da aquisição do conhecimento, há um incremento no potencial de criatividade e o processo pedagógico torna-se mais interativo do que nunca. É como se o tecnicismo, com o computador, a máquina de ensinar, tivesse alcançado o seu auge e transmutado em construcionismo, “o feitiço virou contra o feiticeiro”. E o papel do professor hoje é o de formar indivíduos autodidatas, capazes de conectar informações. O ensino se torna personalizado, há momentos coletivos, momentos em grupos e momentos individuais, momentos presenciais e momentos virtuais, se antes o aluno ia de encontro ao saber, hoje o saber viaja, e essa inversão vem transformar a idéia de sala de aula e de escola, daí ter-se que repensar inclusive o espaço físico da escola com criação de salas ambientes[2] onde o professor atende seus alunos em seus interesses. E ter que se pensar no tempo do professor que atende a alunos coletivamente, em grupos ou individualmente, em sala de aula ou através de e-mail, e site, além de encontros periódicos com outros professores, tanto reais como através da Internet. Esse sistema de engavetamento dos alunos não tem funcionado. É comum ficarmos estabelecendo um monte de regras aos alunos, vício da sociedade industrial, para podermos nos impor e não temos dado conta nem mesmo de cuidar das normas que inventamos, quanto mais das questões do saber. A escola não está dando conta nem da alfabetização. Temos que tentarmos novas soluções e se não tentarmos nunca vamos conseguir sair deste emaranhado que está ficando a cada dia mais emaranhado. Com as novas tecnologias da comunicação e da informação na educação o raciocínio se torna mais rápido, e diminui a necessidade de memorização, uma vez que acessamos informações em tempo real com grande facilidade. Os conteúdos serão construídos de acordo com interesses multidisciplinares, que se organizam de acordo com projetos individuais ou em grupos. O ensino estaria a partir de agora centrado no aluno, não mais no professor, não mais nos métodos e técnicas de ensino. E o educador tem muitas opções metodológicas para organizar sua comunicação com os alunos e cada qual pode encontrar a forma mais adequada de integrar estes métodos às várias tecnologias. E essas tecnologias vão propiciar uma diversificação nas formas de dar aula, de realizar atividades e de avaliar. O aluno é o produtor do seu próprio saber. O foco agora é no aprender e não mais no ensinar. O professor incentiva o aluno e este penetra no mundo do conhecimento com a orientação do professor. E todos, inclusive professores, agora se encontram em permanente processo educativo. O processo educativo exige colaboração e cooperação entre todos os envolvidos. E se não está bem claro ainda para que tipo de sociedade os indivíduos devem ser formados, sabemos no entanto que a escola deve fornecer meios intelectuais para a sobrevivência numa sociedade globalizante, além de desenvolver capacidades de adaptação a ambientes e situações novas, e acima de tudo o respeito às diversidades culturais, sociais e étnicas. E é acima de tudo a superação da divisão do trabalho entre a ciência e a técnica, com perspectivas do surgimento de um novo modo de produção. Não basta apenas desenvolver a capacidade de usar as informações e de com elas produzir melhor, mas também ser capaz de inovar, produzir novos conhecimentos e soluções tecnológicas adequadas às necessidades sociais. É preciso hoje dominar a técnica com cultura científica e discernimento político.
[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC.
[2] Entende-se aqui como salas ambientes, laboratórios com material específico de Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências, etc... em que o professor específico atende a alunos com interesses específicos naquela área. O professor organiza sua sala e permanece a disposição para atendimento a alunos coletivamente, para atendimento a grupos de alunos com mesmos interesses e para atendimento individual a alunos. Isso desde os primeiros anos escolares. |