INTERAÇÃO E INTERATIVIDADEJOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO[1]NOVEMBRO/2001 |
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EDUCAÇÃO & LITERATURA JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO
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Segundo Marco Silva “Interatividade é, a partir dos anos 80, uma condição revolucionária, inovadora da informática, da televisão, do cinema, do teatro, dos brinquedos eletrônicos, do sistema bancário on-line, da publicidade, etc.”. Este adjetivo é usado para qualificar qualquer coisa cujo funcionamento permite ao seu usuário algum nível de participação ou troca de ações. Na década de 90 o termo interatividade foi banalizado e perdeu a precisão de sentido. “Interativo” tem servido para qualificar qualquer coisa ou sistema cujo funcionamento permite ao seu usuário algum nível de participação ou de suposta participação. Temos no cinema chamado de interativo as cadeiras que balançam sinconizadamente com o filme que está sendo exibido (será que alguém está interagindo com alguma coisa?). A televisão diz-se interativa quando os telespectadores podem ligar via telefone e responder sim ou não. No teatro quando os atores se envolvem diretamente com as pessoas da platéia previamente preparadas ou não, é chamado de teatro interativo. Strip tease interativo: quando o espectador participa subindo ao palco para decidir como deve despir-se a striper, se ela deve começar tirando os sapatos ou as luvas.Encontramos ainda os brinquedos eletrônicos, videogames (brinquedos chamados de interativos) e telas táteis que dão informações quando tocadas (sistema interativo de informação). Isso tudo dá ao consumidor, espectador ou usuário a sensação de participação ou de interferência.
O conceito de interatividade, segundo o autor, deve ter surgido no final da década de 70 ou início da década de 80 no contexto das novas tecnologias da informação. O conceito “interação” vem da física, é incorporado pela psicologia social e transmuta-se no campo da informática em “interatividade”.
Alguns não fazem distinção entre interação e interatividade, outros classificam interação como se referindo a relações humanas e interatividade como relação homem-máquina. Para o autor “a interatividade está na disposição ou predisposição para mais interação, para uma hiper-interação, para bidicionalidade (fusão emissão-recepção), para participação e intervenção”. E para ele um indivíduo pode se predispor a uma relação hipertextual com outro indivíduo. Entre TV e telespectador o que há é interação, ele escolhe entre opções que lhe são dadas, não tem o poder de intervir na programação da TV. O receptor está separado da emissão. Já entre uma home-page e um “navegador” pode-se dizer, segundo o autor, que há interatividade. “A home-page não se define como emissão, pelo menos na acepção clássica desse termo. Ela é ambiente de interpenetração, de atuação, intervenção nos acontecimentos, fusão, conexionismo na base do hipertextual. A mensagem no contexto da interatividade não se reduz à emissão. Ela é espaço tridimensional de atuação daquele que não pode mais ser visto como receptor”.
D. Kerckhove, segundo o autor vai dizer que o casamento do computador com o vídeo vem modificar as bases do conhecimento humano. Toda a nossa cultura aprende a projetar extensões sensoriais no universo da tecnologia externa por diferentes interfaces que representa uma metáfora tecnógica dos sentidos. Uma vez que as tecnologias se conjugam em interfaces como computador e vídeo, o ser humano vai sendo tomado tembém por esse modo de conjugação até que se encontra em interatividade ou em interface com a tecnologia. Não nos contentamos mais em assistir ao que nos mostram na tela, entramos nela, literalmente.
O autor vai definir interatividade como a fusão sujeito-objeto (obra). A indefinição de fronteiras entre a obra e o usuário faz com que os estímulos sensoriais (tato, visão e audição) vindos da nossa interioridade fundem-se com as disposições interativas, hipertextuais do equipamento que nos é exterior.
Júlio Plaza vai definir infografia ou computer graphics como imagens criadas com a ajuda da informática e fundadas nos conceitos de imagem digital e imagem numérica, Plaza diz que ela pode ser interativa ou não interativa. A infografia interativa mantém a idéia de fusão sujeito-objeto: “a imagem não se apresenta como uma totalidade absoluta e sim como uma imagem diálogo que a mão, o olho, o cérebro podem mudar, modelar, armazenar e visualizar, multiplicando ao infinito seus pontos de vista internos e externos, incorporando e narrando o sujeito no interior da imagem. O sujeito se desloca visualmente no seu interior, questionando-a através de seus inputs ou entradas alfanuméricas dos teclados, dedos da mão, corpo, olhos, cabeça, respiração e voz amalgamando-se com ela”.
A expressão “imagem diálogo” ou “bidirecionalidade” é a ação dialógica, é o sistema de comunicação entre o usuário e a máquina que a infografia interativa requer. O operador conversa com a máquina dando e recebendo informações na forma fala, escrita, gráfica e visual no monitor de visualização.
Com a intervenção das novas tecnologias, especialmente o computador, as telecomunicações e o audiovisual, acontece uma verdadeira revolução nas artes, a ponto de se poder falar de uma arte da tecnociência, em que intenções estéticas fundadas cientificamente parecem ligadas indissoluvelmente e, em todo o caso, se influenciam reciprocamente. A intensa participação do público tomou novo impulso graças às possibilidades abertas pelo computador.
PARTICIPAÇÃO, BIDIRECIONALIDADE E POTENCIALIDADE-PERMUTABILIDADE
Para alguns a participação do consumidor ou espectador ou usuário no funcionamento de um sistema ou equipamento é o aspecto mais evidente na concepção de interatividade. Entretanto, para o autor esse aspecto lhe parece o mais enganoso no mercado ou na indústria da interatividade. Não se pode esquecer que a comunicação interativa fundada na participação não é apenas emissão, mas produção conjunta da emissão e recepção. Na TV interativa qualquer espectador é também um potencial emissor de programação. Este aspecto da interatividade é extremamente oportuno em nosso tempo porque contempla a polifonia de interesses que se manifesta nas diferenças culturais, ideológicas, religiosas, raciais e sexuais. Permite a expressão da diversidade cultural.
A bidirecionalidade é o modo como a comunicação é arquitetada dentro do meio de comunicação tendo em vista o emissor e o receptor. Só existe comunicação a partir do momento em que não há mais nem emissor e nem receptor, quando o emissor é potencialmente um receptor e todo receptor é potencialmente um emissor. Comunicação é bidirecionalidade entre os pólos emissor e receptor, é troca entre codificador e decodificador, sendo que cada um codifica e decodifica ao mesmo tempo. As tecnologias de comunicação nasceram bidirecionais, mas acabaram perdendo essa característica por imposição de interesses comerciais associados à produção em escala industrial como o telégrafo, o cinematógrafo, o fonógrafo. O telefone foi o único que não perdeu sua finalidade original de tornar possível o uso interpessoal, dialógico. Pelo telefone recebemos informações e dizemos o que queremos, com autonomia. Isso não acontece com a televisão que é um meio de transmissão para a massa e não um meio de comunicação de massa. Nela a não bidirecionalidade é uma questão política e não uma impossibilidade tecnológica.
Quanto a potencialidade-permutabilidade supõe-se multiplicidade e pluralidade como espaço aberto para conexões possíveis e aleatórias. E o autor cita o computador e o CD-ROM como tecnologias que estão introduzindo mudanças profundas no modo de organizar, de produzir e de consumir informações. Ambos foram arquitetados para dispor de grande quantidade de informações, permitindo ao usuário ampla mobilidade para fazer múltiplas conexões ou permutas em tempo real. A informação não é seqüencial e o contato do usuário é absolutamente aleatório, com ampla liberdade para fazer permutas ou conexões. Se o usuário está num determinado ponto da informação e quer buscar outro lado localizado em outro ponto pode fazer sem passar por pontos intermediários. No computador e no CD-ROM todos os planos são simultâneos, eles estão todos à disposição num só tempo, a isso chamamos tempo real. E o usuário pode sair de um ponto para outro qualquer instantaneamente, sem nenhuma linha definida ou privilegiada para o seu deslocamento. O usuário “navega” no mar de informações armazenadas. Cada um faz o seu caminho e suas conexões, sem nenhum trajeto pré-definido. É isso que faz do computador e do CD-ROM sistemas interativos. Sua tecnologia supõe potencialidade e permutabilidade, ou seja, grande quantidade de informações instantâneas e total liberdade para combina-las. É o usuário que decide o que vai acontecer no monitor. Dependendo do que o usuário fizer novos eventos ou combinações podem ser desencadeados. Nem ele sabe o que vai acontecer depende da conexão e do acaso.
CRIATIVIDADE OU HIPERATIVIDADE DIGITAL-VISUALNão há como negar a interatividade do computador. Sua estrutura básica é a hipertextual e, como já foi visto, o hipertexto é por definição interativo. No entanto, é preciso ter o cuidado de fazer valer a perspectiva criativa da interatividade não ficando estanque no esquema sensório-motor, a hipermotricidade digital visual e mecânica que aprisionam a criatividade.
Marco Silva finaliza o seu texto dizendo que não há como negar a dimensão criativa e libertária presentes na participação, bidirecionalidade e potencialidade-permutabilidade que são a base para a comunicação criativa com as novas tecnologias e com as pessoas. “Estamos então diante de algo que não é, em si, bem ou mal. Na verdade, quem vai fazer manifestar suas energias libertárias e criativas não é o Homo faber, mas o Homo creans”.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAMarco Silva Sociólogo (UFRJ), mestre em Educação pela Fundação Getúlio Vargas, professor da Universidade Santa Úrsula/RJ, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e da Escola de Professores/RJ.
[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º grau. Professor facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC.
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