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EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

MÉTODOS, TÉCNICAS E O USO DAS

NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO 

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

                                                                                                         Fevereiro/2002

 

 

 

Embora Markus j. Weininger  trate aqui em seus dois textos sobre  a questão do uso das novas tecnologias no ensino de línguas estrangeiras, vamos ver que seus métodos e técnicas aplicam-se também a outras disciplinas.

Para o autor a tecnologia é apenas um instrumento na concretização das idéias didáticas. O seu uso, por si só, não representa nenhum objetivo. De nada adianta estarmos informatizados com moldes metodológicos mais que ultrapassados. Quanto aos softwares, em sua opinião, necessário se faz a sua produção nacional, para evitar unilateralidade de informações, carência de aspectos importantes para o Brasil e viés ideológico. Se não tivermos cuidado com estes programas acabamos por transpor material já existente sem nenhuma adaptação para o computador, adquirindo desta forma um milionário retroprojetor individual dos livros didáticos já ultrapassados.  No momento é preciso  privilegiar a discussão metodológica em torno dos recursos tecnológicos na educação. De nada adianta ficarmos usando modelos didáticos da “idade da pedra” com a ajuda da tecnologia da “idade do espaço” (Higgins, 1988)[2], pois segundo Marshall Mcluhan, (1964, p.16)[3] um meio novo, de início, apenas divulga os mesmos conteúdos anteriores, sem nem questioná-los ou desenvolver novas formas, mais adequadas. Um exemplo é a Internet, que após apenas jogar toda a produção impressa dentro da rede mundial de dados, só depois de algum tempo criou a sua própria linguagem, com formas inéditas de trabalhar e apresentar conteúdos.

Begley (1994, p.7)[4] vai dizer que o ser humano consegue reter 10% do que ele vê, 20% do que ele ouve, 50% do que ele ouve e vê (a vantagem multimídia), e 80% do que ele simultaneamente ouve, vê e faz (o salto interativo). Desta forma temos maior aproveitamento na aprendizagem quando recebemos as informações na hora que são necessárias para se resolver determinada tarefa.

O computador que a princípio era a máquina de ensinar do behaviorismo de Skinner, está hoje com a Internet muito mais próximo dos modelos construtivistas, com a sua possibilidade de interatividade. Segundo o autor a Internet vai servir para:

  1. Encontrar ofertas informativas (textos, gráficos, documentos sonoros e de vídeo) sobre qualquer assunto e em qualquer língua;
  2. Colocar ofertas informativas (textos, gráficos, documentos sonoros e de vídeo) sobre qualquer assunto e em qualquer língua;
  3. Comunicar-se de forma não-intermediada com pessoas do mundo inteiro sobre qualquer assunto e em qualquer língua.

A Internet é basicamente um sistema de comunicação, como o telefone codifica ondas sonoras de forma análoga em oscilações de correnteza elétrica de baixa voltagem e as transporta para um usuário que é encontrado através de um sistema de grupos numéricos, onde as oscilações elétricas são re-traduzidas para ondas sonoras. É isso que a Internet faz, só que para dados digitalizados de qualquer origem: texto, som, imagem, vídeo. Além disso existe um sistema de grupos numéricos para identificar e encontrar todos os usuários. E como a tv e o rádio suas informações são acessíveis para milhões de usuários ao mesmo tempo. É um sistema bi-direcional permanente. Para o autor o verdadeiro potencial da Internet ainda não chegou a ser percebido, usa-se ainda como se utilizasse o telefone apenas para ligar para serviços de anúncios ou serviços de programação de cinemas ou teatros, apenas escutando as fitas, sem nunca falar uma palavra sequer na linha. Com o tempo a Internet será utilizada com a mesma naturalidade com que usamos o telefone.

Além dos programas de simulação em que existe a possibilidade do usuário criar objetos com os quais outros usuários poderão interagir, há também o diálogo com outros usuários que traz enorme proveito para o estudante. E como a interação é baseada em elementos escritos, vamos exercer a compreensão da escrita. E a comunicação é em tempo real e autêntica e no ritmo de cada um. Cada um tem o tempo que necessita para decodificar e compor seu texto.

É bom incentivar o aluno a escrever no computador e entregar o trabalho em forma de disquete. O professor acrescenta comentários destacados em outra cor. Os erros são marcados em cor diferente com uma indicação em que sentido é necessário corrigir, e o erro deve ser corrigido pelo próprio aluno. O aluno ao receber o disquete, faz as devidas alterações e devolve o disquete ao professor para verificação. Com esse  método de correção interativa o professor ganha um papel de parceiro e assistente, perdendo a sua função tradicional de corretor autoritário. O trabalho no computador facilita a produção do texto: corretor ortográfico, tesoura, alteração do texto sem necessidade de reescrever tudo novamente, além de facilitar a legibilidade, facilidade de acrescentar comentários e correções. A avaliação pode ser feita pelo progresso visível até se chegar ao texto final, focalizando mais o progresso do aluno durante o processo de criação do texto e não apenas o resultado final ou inicialmente por ele apresentado.

Isso incentiva o aluno a escrever sem o medo de cometer erros. E o aluno poderá publicar seu trabalho caso tenha acesso a um site na Internet, o que poderá incentivá-lo a escrever. É importante também se trabalhar com temas de interesse do aluno, que inicia o trabalho buscando material e informações sobre o tema escolhido. A Internet pode nos propiciar uma oferta abundante e inédita de informações atualizadas. Assim os estudantes exercitam a leitura, procurando  e selecionando informações para depois fazer a montagem do texto, resumindo alguns trechos, elaborando outros e juntando informações, coerentemente. O trabalho não deve ser visto como um mero teste de conhecimentos adquiridos e sim como uma atividade lúdica que dá prazer e a chance de aprender sem medo.

 métodos

O método tradicional do ensino de línguas estrangeiras é o método da gramática e tradução. Há uma progressão linear de unidades gramaticais partindo do morfologicamente simples para chegar no morfologicamente mais complexo, independente da complexidade semântica de uma estrutura ou suas implicações pragmáticas. A gramática é dada de forma exclusivamente dedutiva, por regras escritas (muitas vezes pouco produtivas) e venerada de maneira quase estética, sem considerar a sua função comunicativa, uma coletânea de respostas impossíveis e perguntas irrelevantes, como bem definiu Robert de Beaugrande no 1º encontro do CELSUL em Florianópolis. O método de gramática e tradução dos anos 50 segue os moldes comportamentais da reconstrução pós-guerra: sem sacrifícios não há resultados. O professor aqui é a autoridade máxima do processo. Todo o processo depende do professor. Os alunos estudam decorando regras e listas de vocabulário.

Depois vieram os métodos audiolinguais, tecnicistas. A gramática foi apontada como causa da falha dos métodos anteriores e banida das aulas. O método baseia-se em materiais visuais: painéis, posters, slides, filmes 8mm e vídeos, acompanhados de áudio: voz do professor, disco vinil, rolo, fita cassete. Era puro behaviorismo, o espírito da década de 60, com total confiança na tecnologia como remédio para todos os males. Foram os famosos laboratórios de língua. Para o autor o papel do professor mudou de “sábio no palco” para “domador de circo”, adestrador de seus alunos. Ambos papéis extremamente autoritários e deixam o aluno numa posição hierarquicamente submissa, em estado de menoridade permanente.

Em 70 assistimos a revolução comunicativa, com a discussão do conceito da competência comunicativa de Habermas, como base para uma renovação democrática representativa e pluralista, com objetivo emancipatório. A tarefa do professor era a de criar situações comunicativas e provocar uma necessidade de interação. De certa forma essa abordagem também não deixou de ser autoritária apesar de sua intenção emancipatória e democrática. Faltou flexibilidade e competência e adaptação às necessidades sempre diferentes da comunicação real.

Nos anos 80 encontramos os métodos nocionais-funcionais que reproduz no processo de ensino toda a organização mental do mundo. Cada unidade trabalha uma área nocional, dando estruturas gramaticais e lexicais necessárias.

Até os dias de hoje, todos os métodos se chamam comunicativos, independente do conteúdo atrás deste rótulo.

Mas o importante é sabermos estabelecer uma verdadeira comunicação  entre docentes e discentes. O professor é antes de tudo um parceiro no processo de aprendizagem, e não “mestre”. A “construção interativa dos conteúdos” na sala de aula exige uma comunicação autêntica entre todos os participantes do processo. O professor neste conjunto não deve responder a perguntas que ninguém faz e não deve fazer uma pergunta temática só para verificar se o aluno usa a forma sintática correta. Esse método exige uma participação autêntica por parte de todos. A comunicação de aula é uma troca onde todos aprendem, inclusive o professor. O aluno deve ser o sujeito consciente e responsável do seu próprio processo de aprendizagem. O centro do ensino é o aluno com seus interesses e suas necessidades comunicativas, não mais o professor ou o material didático.

Antes o professor era o centro da aula, era ele quem determinava o conteúdo, a didática, a metodologia e o ritmo das aulas. Se o professor era bom a aula também era boa. Na época dos métodos audiolinguais e na “primeira revolução comunicativa” o centro era o material didático. Se o material didático era bom, a aula era boa.

Com a “emancipação” do aluno, novas são as responsabilidades dos alunos e dos professores. O professor há de ser flexível para se adaptar aos diferentes tipos de grupos. Deixa de existir a “aula modelo”, cada aula é construída sob medida. O professor tem a responsabilidade de conseguir atingir o máximo do conjunto dos objetivos individuais que motivou a cada aluno a freqüentar o curso. O professor terá mais liberdade e mais responsabilidade. E o aluno ganha mais direitos de participação e ao mesmo tempo a obrigação de assumir a sua parte de responsabilidade pelo seu próprio processo de aprendizagem. O aluno não pode mais ficar no papel passivo de cruzar os braços e “consumir” a aula do professor como se fosse um programa de tv, para decorar o conteúdo em casa e reproduzi-lo mais tarde. Se houver uma boa interação e colaboração a aula será boa.

Essa abordagem holística está aberta a todas as outras abordagens, durante o processo de aprendizagem há necessidade de fases cognitivas e de imersão, de repetição e de criatividade. Cabe ao professor gerar e gerenciar todas essas atividades, escolher a estratégia e o material certo para cada momento. Isso vai exigir uma qualificação cada vez maior do professor que deverá saber usar todas as abordagens e recursos em termos de material e de tecnologia.

O professor hoje precisa ensinar aos seus alunos a aprender a aprender, a serem autônomos, propondo formas de exercícios mais independentes e familiarizando-os com o uso autônomo das novas tecnologias: vídeo, computador, telemática. Esses recursos vão proporcionar que o aluno resolva muitas de suas dúvidas e construa o seu conhecimento em laboratórios, salas de computadores, mediateca ou em casa. Os materiais de estudos autônomos são capazes de compensar, pelo menos até certo ponto, os problemas de heterogeneidade do grupo. É preciso que o aluno tenha acesso a um acervo de material diversificado para poder indicar a cada aluno aquilo que lhe falta.

O autor aconselha que ao trabalhar com as novas tecnologias trabalhe-se em grupos  de dois ou três por computador para estimular a troca e discussão de hipóteses. Os bons softwares didáticos já prevêem a interação dos alunos entre si.

O editor de texto é uma boa ferramenta para incentivar a produção escrita, pois o texto na tela tem um caráter muito mais provisório que palavras escritas em papel pela facilidade de manipulação. Além do mais o texto na tela é acessível a todos os integrantes do grupo e aos demais grupos. E cada contribuição de um aluno evoca comentários e adendos dos outros, fazendo a fase de produção escrita mais produtiva. E finalmente é possível contar com todas as facilidades do processamento de texto: correção ortográfica, facilidade de corrigir e manipular o texto, copiar ou imprimir para troca entre os grupos. O resultado será um texto correto, relativamente grande e impresso “limpinho”. Isso impressiona o aluno e estimula a autoconfiança. A produção escrita deixa de ser um teste dolorido para se tornar uma experiência construtiva e prazerosa.

As novas tecnologias oferecem ainda muitos recursos informativos úteis: dicionários, enciclopédias e a internet como fonte de dados sobre virtualmente todos os assuntos possíveis, além de permitir a comunicação através do correio eletrônico, possibilitando que os alunos se comuniquem com seus colegas ou com outros alunos de qualquer parte do planeta, para troca de idéias e de experiências, de forma rápida e a baixo custo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Exemplos do uso criativo de recursos informatizados para o ensino de línguas

Markus J. Weininger
DELEM/UFPR (Curitiba,PR)
markus@humanas.ufpr.br

Estudo autônomo com a ajuda de novas tecnologias no ensino comunicativo de línguas estrangeiras

Markus J. Weininger,
Professor de Alemão/UFPR,
Doutorando em Lingüística Aplicada/UFSC
e-mail: markus@mbox1.ufsc.br ou
markus@humanas.ufpr.br

 


 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor facilitador pelo PROINFO – MEC. http://planeta.terra.com.br/educacao/josue

[2] HIGGINS, J. (1988) Language, learners and computers. London: Longman.

[3] MCLUHAN, M. (1964). Understanding Media: The extensions of man. New York: McGraw-Hill .

[4] BEGLEY, S. (1994). Teaching minds to fly with discs and mice. Newsweek, May 31, 1994, 47.