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EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

O USO DA INTERNET COMO APOIO PARA CURSOS PRESENCIAIS 

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Setembro/2001

 

Para GODOY (1997)[2], segundo Sergio Garrido Moraes, “o uso de recursos tecnológicos como um meio para melhorar a aprendizagem tem sido uma meta de educadores por mais de meio século. Da projeção de filmes em sala de aula à ‘máquina de ensinar’ de Skinner, do vídeo-cassete ao computador, as iniciativas na área de ‘Tecnologia da Educação’ têm duas preocupações básicas: a) produção de materiais e meios de ensino mais eficientes; b) individualização da instrução”

Para o autor com o acesso à Internet facilitado pela WWW (World Wide Web), temos em mãos um novo recurso tecnológico que, ao permitir a integração de texto, imagem, áudio e vídeo, disponíveis em qualquer parte do planeta e com atualização automática, traz novas possibilidades à tecnologia da educação, no sentido da criação de materiais mais eficientes e da individualização do ensino.

A presença da informática na vida cotidiana já é uma realidade incontestável. Depois de passar pela revolução da fala, da escrita e da impressão, a humanidade vive, hoje, a revolução da informática. Vivemos a revolução da “telemática”, em que a informática se funde à telecomunicação, multiplicando as possibilidades de aplicação de ambas. Estamos na era do teleprocessamento e da difusão da informação. O computador, a televisão e o telefone se fundem criando um novo ambiente de interatividade, fragmentação, não linearidade e simultaneidade. Segundo o autor, dentro deste cenário educação e informática são partes de um todo, numa relação de interdependência e de influência mútua: educação para a informática e educação pela informática. A primeira tem sua importância já reconhecida em nosso meio. A segunda é uma preocupação nova.

“Com a crescente penetração dos microcomputadores, cada vez menores, mais potentes e mais baratos, sua utilização como auxiliares na educação revela-se de grande potencial. Mas, é ainda recente a espetacular multiplicação dos recursos dessas máquinas. Até o começo dessa década, os computadores pouco mais faziam do que reproduzir textos, sem grandes vantagens em relação aos meios impressos tradicionais. Hoje, no entanto, podem lidar com imagens e sons. Sua interligação mundial pela Internet abre novos caminhos para a utilização sistemática e eficaz da informática como instrumento de apoio à educação”. Sergio Garrido Moraes

A Internet pode ser usada na educação, segundo o autor, como: 

  Repositório: o uso de documentos disponíveis na WWW, preparados pelo professor ou por ele pesquisados, é requisitado como complemento do ensino; outras informações, como programa, plano de datas, assuntos administrativos, divulgação de notas, etc. também podem ser disponibilizadas na rede. É uma forma simples de agilizar comunicação entre o professor/a e os alunos/as;

  Cursos à distância: mais freqüentes em nível de extensão, consistem em cursos totalmente on-line, sem contato pessoal entre professor/a e alunos/as. Pode ser acessado a qualquer hora e o acompanhamento é feito por meio de trabalhos apresentados durante o curso;

       Apoio à aula: o curso está todo estruturado em um site; utiliza-se de aulas expositivas, em sala, com o material disponível na rede e os recursos da Web são empregados como suporte para a melhoria de habilidades como exemplificação, comunicação, organização, estímulo, feedback, integração. É uma tentativa de levar o mundo para a sala de aula e a aula para o mundo do aluno, mediante a utilização combinada dos recursos proporcionados pela Internet.

São vários os recursos disponíveis na WWW, como também é variada a utilização que pode ser feita deles. Os recursos mais comuns são o e-mail (troca de mensagens e arquivos eletrônicos), o chat (troca de mensagens escritas em tempo real, entre duas ou mais pessoas), a navegação (ida de um endereço a outro através dos recursos de hipertexto) e a pesquisa (busca de assuntos e palavras específicas através dos sites de busca).

A Internet é, também, a maior, mais rápida e mais econômica forma de publicação jamais criada. Basta um cadastro em sites como www.geocities.com e www.terravista.pt e qualquer pessoa pode preparar, editar e publicar o material que quiser e colocá-lo disponível para todos os demais usuários.

Com o uso de recursos mínimos de programação, é possível, ainda, criar formulários que podem ser "inteligentes": eles sabem a "resposta certa" para perguntas formuladas, e informam imediatamente ao usuário seu erro ou acerto.

O uso dos recursos da rede mundial pode contribuir de várias formas para a melhoria de aspectos importantes de uma aula. Estas contribuições podem ser agrupadas nas seguintes áreas: a) dinamizar as aulas expositivas; b) melhorar a comunicação professor/a-alunos/as e entre os/as alunos/as; c) apoiar o estudo e a pesquisa dos alunos/as; d) agilizar e individualizar o processo de avaliação.

 DINAMIZAR AS AULAS EXPOSITIVAS 

Material de apoio para exposição: o site da disciplina pode ser desenvolvido já com o objetivo de funcionar como o material de apoio à exposição do professor. As páginas introdutórias de cada assunto ou tópico da matéria podem ser estruturadas de forma que possam ser utilizadas em lugar da lousa, de transparências ou apresentações gráficas geradas em computador (PowerPoint e outros softwares do gênero), e mesmo em substituição ao videocassete e ao gravador. O emprego adequado de recursos multimídia - imagem, animação, som, vídeo – pode tornar a exposição mais atraente e dinâmica, aumentando o interesse dos alunos. O hyperlink pode ser utilizado para buscar em um glossário a definição de uma palavra nova, para ligar as diferentes partes da aula, para acessar uma página complementar, dentro ou fora do site, ou para trazer para a tela sons e imagens. Com o site dentro da rede, o/a aluno/a pode acessá-lo a qualquer momento; a aula estará sempre disponível, tanto para a preparação prévia do/a aluno/a como para posterior resgate de seu conteúdo. De um computador em casa, no escritório ou na escola, o/a estudante pode rever o material da aula ou mesmo recuperar uma aula perdida. Além disso, em uma sala de aula com computadores disponíveis para utilização dos alunos, em grupo ou individualmente, eles podem acompanhar a navegação da aula, interagindo com o material, tomando notas (com a utilização de um editor de textos), ou mesmo realizando pesquisas e visitas a outros sites sugeridos pelo professor. Com a ampla utilização comercial da Internet, várias empresas de quase todos os setores têm seus sites na rede. Esse material normalmente contém informações sobre produtos, campanhas publicitárias, história da empresa, informações financeiras, etc. O professor pode utilizar as páginas de empresas para enriquecer os exemplos dados em aula, exibindo as próprias imagens do site como ilustração. Para prevenir possíveis problemas de conexão on-line durante a aula, as páginas de interesse podem ser previamente copiadas no próprio site, e acessadas off-line. Com uma boa pesquisa, o professor pode ter à mão um grande número de exemplos, e utilizá-los de acordo com a conveniência do momento e com o andamento da aula. Além disso, a exibição de material criado pelas empresas, ao invés da mera citação do exemplo, dá um reforço adicional aos aspectos tratados pelo professor, ligando a situação de aula a situações profissionais. Existem, também, sites de organizações, de órgãos governamentais, de universidades, de institutos de pesquisa que podem fornecer material para vários tipos de exemplificação em várias áreas de estudo.

 MELHORAR A COMUNICAÇÃO PROFESSOR/A - ALUNOS/AS E ENTRE OS ALUNOS/AS

 Professor/a - alunos/as: o e-mail pode facilitar bastante toda a comunicação entre professor/a e alunos/as, em ambas as direções, desde que todos tenham um endereço eletrônico para que a correspondência seja endereçada. Os alunos podem enviar perguntas, pedidos de esclarecimentos, dúvidas sobre calendários e trabalhos, etc; o professor pode enviar qualquer tipo de comunicação ou material para toda a turma ou para alunos individualmente. Outro recurso que pode ser utilizado para agilizar a comunicação é o chat. Em horários previamente marcados, professores/as e alunos/as podem conversar on-line. A sessões de chat podem ser especialmente interessantes como plantão de dúvidas, acompanhamento de trabalhos, monitoramento de atividades, e revisão de conteúdo.

Entre alunos: de posse de um endereço eletrônico para correspondência, os alunos podem trocar mensagens entre si, tanto para atividades curriculares, como para assuntos pessoais. Partes de trabalhos em grupo podem ser trocadas, dúvidas esclarecidas, reuniões marcadas, etc. Outra forma de emprego do e-mail é a formação de grupos de discussão. Um assunto pode ser sugerido pelo professor e os alunos enviam suas mensagens a uma central. Todas as respostas podem ser acessadas por toda a turma, incentivando o debate e a troca de idéias. A comunicação entre alunos pode, ainda, ser incrementada ao se disponibilizar na rede os trabalhos feitos por cada um. Hoje, os trabalhos dos alunos, feitos individualmente ou em grupo, só são de conhecimento de quem os realizou e do/a professor/a ou professores/as que os avaliam. Com a colocação dos trabalhos na Internet, todos os/as colegas podem ter acesso aos trabalhos da turma, possibilitando conhecer as diferentes abordagens utilizadas.

 APOIAR O ESTUDO E A PESQUISA DOS ALUNOS 

Textos: o conteúdo da matéria pode ser complementado com textos de vários tipos e origens. Uma das fontes possíveis é a própria rede: muitos órgãos de imprensa, universidades, organizações e empresas têm em seus sites artigos e textos que podem ser copiados para o site da disciplina ou acessados via hyperlink. O professor pode, também, elaborar seus próprios textos explicativos complementares a cada tópico da matéria ou a cada aula. Assim, os alunos terão acesso permanente a todo o conteúdo do curso.

Links: para cada conteúdo, o professor pode selecionar uma série de endereços relacionados à matéria estudada. Esses sites podem servir como exemplo, ilustração, curiosidade ou complementação de informações. O bom uso de links externos ao site é uma poderosa ferramenta de incentivo ao estudo, pois complementa as informações do conteúdo da disciplina, além de ter um aspecto lúdico, que pode aumentar o interesse do/a estudante. O repertório de informações disponíveis na Internet já é imenso, e a tendência é de crescimento exponencial. Logicamente, grande parte do conteúdo da rede é puro ruído, informações sem importância. Mas, com o crescimento do número de usuários e de provedores, cada vez mais conteúdo de qualidade e interesse estará disponível para consulta. O recurso de links com outros sites pode ser empregado, também, para ligar conteúdos da disciplina a conteúdos de outras disciplinas, criando um vínculo de interdisciplinaridade. A ligação também pode ser estabelecida com matérias de séries anteriores, promovendo uma constante recordação de conceitos.

Pesquisa: ao invés de localizar os sites previamente, o professor pode propor como atividade aos alunos a pesquisa de um assunto na rede. Através dos search engines, é possível localizar qualquer referência a um tema ou palavra dentro da rede. Os alunos têm, assim, o desafio de garimpar informações e depois organizá-las. Se a primeira etapa - obtenção das informações - é facilitada pelos instrumentos de busca, a organização e filtragem do resultado são bastante trabalhosas, pois é normal que se encontrem milhares de referências sobre os assuntos mais comuns. Cabe ao estudante concentrar-se no objetivo da pesquisa, filtrar o ruído recebido, selecionar o material mais relevante e estabelecer critérios mais específicos de busca. Como a língua "oficial" da Internet é o inglês, isso pode ser um estímulo adicional para o aprendizado da língua.

 AGILIZAR E INDIVIDUALIZAR O PROCESSO DE AVALIAÇÃO

Testes: com os recursos de preenchimento de formulários on-line, é possível criar um banco de testes e exercícios que pode ser individualizado e corrigido instantaneamente, dando feedback automático ao aluno. A correção pode ser feita automaticamente pelo computador, que informa ao aluno, imediatamente, a sua pontuação e pode ser mantido registro para que o professor avalie o interesse e desempenho de suas turmas. Esse tipo de avaliação tem menos caráter de controle e mais de contribuição ao aprendizado.

Entrega de trabalhos: qualquer trabalho, exercício, relatório ou outra atividade escrita ou com uso de imagens e que possa ser convertida em arquivos de computador, pode ser entregue via e-mail com o arquivo anexo. Essa possibilidade elimina a necessidade de impressão. Para o professor, acaba com o esforço de carregar quilos de relatórios, além de diminuir o risco de perda ou extravio de material. A avaliação pode ser feita diretamente no arquivo enviado pelo aluno, utilizando os recursos de revisão dos editores de texto, e devolvida também via e-mail. Outra forma de entrega de trabalhos é a "entrega virtual": o trabalho pode ser transformado em um site, e o professor, para a correção e avaliação, acessa os endereços criados pelos alunos.

Provas, exercícios e relatórios: atividades que impliquem em nota ou que exijam maior grau de controle, podem, mesmo assim, ser realizadas via rede. Pode ser utilizada a variação de perguntas para diferentes turmas e alunos, diferentes questões em formato teste, diferentes textos base para análise, enfim, mecanismos que levem à maior individualização da atividade de avaliação, o que permite restringir ou identificar casos de cola. De qualquer forma, nesse tipo de atividade a utilização dos recursos on-line pode, ainda, trazer riscos quanto à validade e qualidade do processo de avaliação, pois exige um nível de maturidade muito alto por parte dos/as alunos/as para que não ocorram fraudes.

O aspecto interatividade parece ser, ao mesmo tempo, a maior inovação trazida ao processo de ensino pelos recursos da WWW e o que mais contribuições traz a ele. O e-mail permite aos alunos contato permanente com o professor, melhorando a comunicação. Os exercícios propostos, para serem respondidos por e-mail, agilizam a avaliação e permitem um feedback individualizado de forma mais ágil - o aluno pode responder e receber a sua avaliação mesmo fora de horário de aula. Para viabilizar essa comunicação, todos os alunos devem ser incentivados a terem seu próprio endereço eletrônico, por meio de um dos vários sites que oferecem e-mail gratuito e que pode ser acessado por qualquer computador conectado à Internet (Hotmail, Rocketmail, Altavista, etc.). Os links colocados no site, em páginas de assuntos específicos, contribuem com o estudo, permitindo ao aluno acessar sites de empresas e organizações que contenham informações complementares ao tópico estudado ou que sirvam como exemplos.

Para o autor, dentro de sua pesquisa a contribuição mais significativa foi, sem dúvida, na comunicação professor-aluno, permitindo uma aproximação nem sempre possível em sala de aula. E para que todo o potencial da Internet seja bem explorado, é necessário incentivar mais a pesquisa pelos próprios/as alunos/as. Para que isso seja possível, são necessários dois fatores importantes: a) que haja mais material útil na rede, que autores/as, editoras, professores/as e universidades utilizem mais a possibilidade de divulgação on-line de seus trabalhos - afinal, muitos textos interessantes desaparecem numa pilha de papel sem que quase ninguém tenha acesso a eles; b) o próprio professor tem que passar por um processo de mudança de postura: deixar de ser o "transmissor de informações" que é hoje, e tornar-se um "coordenador do processo de ensino-aprendizagem"; a informação pura e simples poderá ser obtida pelo aluno, seja no site da disciplina, seja em qualquer outro computador do mundo que disponibilize essa informação, cabendo ao professor a função de organizar essa massa enorme de dados, editá-la, selecioná-la, além de estimular a pesquisa, orientar o debate e acompanhar o desenvolvimento dos alunos. Essa mudança de postura não é rápida nem fácil, pois vai de encontro a anos de formação e a uma estrutura que não pode ser definida como facilitadora deste processo.

 DIFICULDADES 

Para a criação de um site de apoio às aulas, são necessários conhecimentos em três áreas: a) o conteúdo a ser tratado, e a sua melhor forma de abordagem; b) as ferramentas de criação e desenho de páginas; c) o potencial dos recursos da Internet. Além disso, é necessário um tempo bastante grande para a montagem e publicação das páginas, bem como para as respostas ao e-mail dos alunos. É difícil para um professor, sozinho, dar conta de todas essas habilidades e também manter a interação com os alunos. Uma estrutura ideal deveria ser composta de três pessoas: o professor, dando conta do conteúdo, abordagem, aspectos pedagógicos, pesquisa de material e acompanhamento das mensagens eletrônicas; o webdesigner, criando e desenvolvendo páginas; e o webmaster, responsável pela estrutura do site, caminhos para navegação, atualização e incorporação dos recursos disponíveis. Logicamente, um webdesigner e um webmaster podem ser responsáveis pelos sites de várias disciplinas. A existência de uma equipe de trabalho não tira do professor, no entanto, a necessidade de saber utilizar a Internet, pois são de sua responsabilidade a pesquisa e o feedback aos alunos. É ele, também, que deve dar a palavra final sobre os aspectos instrucionais, pois de nada adianta um site bonito, cheio de recursos, se não contribui para o efetivo aprendizado dos alunos. Não há, contudo, modelos prontos para se utilizar; o uso da Internet como ferramenta para a tecnologia da educação - ou Web Based Instruction (WBI), segundo (MCMANUS, 96) segundo Sergio Garrido Moraes - é ainda uma área nova, em plena construção.  

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

  

Sergio Garrido Moraes

Universidade Anhembi Morumbi

e-mail: sgmoraes@ruralsp.com.br

   

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º grau. Professor facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC.

 

[2] GODOY, A. S. - Recursos Tecnológicos e Ensino Individualizado - in MOREIRA,

      D. A. (org) - Didática do Ensino Superior. São Paulo: Pioneira, 1997. Pág. 101-

      113.