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PRESENCIAL VIRTUAL
& VIRTUAL PRESENCIAL Josué Geraldo Botura do Carmo[1] Agosto/2002 |
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José Manuel Moran é hoje no Brasil, em minha opinião, o maior expoente
que influenciará uma educação “inovadora” com o uso das novas
tecnologias, não só no ensino superior onde acontece a sua experiência,
mas também no ensino fundamental e médio, induzindo-nos a reflexões
sobre métodos e técnicas de ensino. É um profundo conhecedor da
comunicação e da educação. Atualmente exerce as funções de
professor de Novas Tecnologias no Programa de Educação e Curriculum da
PUC-SP, Assessor do Ministério de Educação para avaliação de cursos à
distância, e Coordenador de Tecnologia da Faculdade Sumaré – SP. Este
seu texto
será apresentado no próximo Congresso da ABED – Associação Brasileira de
Educação a Distância, de 2 a 4 de setembro de 2002 que acontecerá em
São Paulo.
MORAN fala de um ensino semipresencial que integra atividades docentes em sala de aula e outras em ambientes virtuais, integrando de forma equilibrada o processo ensino-aprendizagem presencial com o virtual, virtualizando o ensino presencial e presencializando o ensino a distância. Os encontros em um mesmo espaço físico vão se combinar com encontros virtuais, à distância, através da Internet. E as conexões on-line, em tempo real, vão permitir que professores e alunos falem entre si e formem pequenas comunidades de aprendizagem que poderão favorecer encontros que nos tiram do isolamento. Esses dizeres me provocam uma reflexão: não dá para se mover dentro de antigos paradigmas, é preciso se pensar em um novo paradigma, em novos métodos, novas técnicas, dentro dessa nova mentalidade de ensino.
Para o autor o objetivo tanto dos cursos presenciais como dos cursos
virtuais é um só: que os alunos aprendam. “Podem mudar algumas formas de
ensinar, de organizar a aprendizagem, as mídias, mas no conjunto os
processos são semelhantes”. A comunicação on-line vai influenciar tanto
na pedagogia dos cursos presenciais como na pedagogia dos cursos à
distância. Estamos assistindo a uma convergência de métodos e técnicas
de ensino-aprendizagem nestas duas modalidades de ensino. E
a meu ver uma avaliação só pode ser “eficiente” se tiver cunho
ideológico, se eu souber exatamente qual o resultado que quero do
produto sem me preocupar com o desenvolvimento individual, com as
qualidades de cada aluno e de cada aluna. Se eu quero um tipo de
indivíduo com tais e tais características, no final eu poderei avaliar
se consegui ou não esse tipo de indivíduo, mas se o que eu quero é que
cada um tenha o desenvolvimento dentro de suas próprias expectativas, aí
então me foge esse poder de avaliar. Há uma dimensão inavaliável dentro
de todo o processo educativo. E essa talvez seja a dimensão mais
significativa. Temos que ter em vista que precisamos educar para o presencial e para o virtual, para a possibilidade de se continuar aprendendo em ambientes virtuais, acessando páginas na Internet, pesquisando textos, recebendo e enviando mensagens, discutindo questões em fóruns ou em salas de aula virtuais, divulgando pesquisas e projetos.
Não podemos mais
continuar com essa mentalidade conteudista que estamos habituados, a
ênfase agora deve ser no aluno individualmente e na interação do aluno
com o professor sempre tendo em vista a construção do conhecimento,
buscando um equilíbrio do individual com o grupal, num processo
cooperativo, aproximando o pensar do viver. Somente podemos educar para a autonomia através de processos fundamentalmente participativos, interativos e libertadores, respeitando as diferenças, incentivando, apoiando e orientando. As mudanças na educação dependem, mais do que das novas tecnologias, de educadores, gestores e alunos maduros intelectual e emocionalmente. Pessoas curiosas, entusiasmadas e abertas, capazes de motivar e dialogar. Focando a aprendizagem pela experiência/ação e reflexão: desenvolvendo projetos, buscando solucionar problemas, incentivando a pesquisa, a comunicação e a análise de significados, garantindo uma aprendizagem significativa através da integração do presencial com o virtual. MetodologiaNum primeiro momento é preciso nos conhecermos, criar laços, mapear os grupos, as pessoas, organizar o processo de ensino-aprendizagem, a seqüência das leituras, as atividades, as pesquisas individuais e de grupo, o cronograma, a metodologia. Depois desses contatos pessoais podemos ir ao virtual e aproveitar as suas vantagens: flexibilidade de tempo e de lugar para acessar. Os grupos podem com facilidade criar o seu espaço de comunicação para troca de resultados. Em um terceiro momento, podemos voltar a nos encontrar novamente, fisicamente, para um aprofundamento dos resultados obtidos no virtual, fazendo sínteses para podermos partir para uma nova etapa de aprendizagem, sempre envolvendo os alunos/as, com prática, leitura e reflexão. O curso deve ser planejado como um todo, e estar aberto para incorporações que se fizerem necessárias, para que possamos valorizar as qualidades dos alunos. Nas primeiras aulas o importante é motivar os alunos para o curso, criar boas expectativas, estabelecer laços de confiança e organizar o processo de aprendizagem. Esses primeiros encontros devem ser agradáveis, interessantes e cativantes. E isso não depende somente do professor ou da professora, mas de toda a instituição. Os alunos e as alunas precisam antes de tudo acreditar que vale a pena participar desse processo de aprender juntos. E os professores e professoras precisam acreditar que estão também, durante o curso, num processo de aprendizagem. Podemos usar as novas tecnologias para uma boa apresentação do curso através do PowerPoint, outros recursos da informática, inclusive a Internet. O importante é que se crie um clima de apoio, de incentivo e de afeto. Depois das primeiras aulas presenciais, podemos marcar uma primeira leitura virtual de um texto e o início da primeira pesquisa. Os alunos lêem o texto e compartilham suas observações com o grupo. Voltamos depois ao presencial para aprofundamento das questões. O ritmo do presencial-virtual depende de cada professor e do grau de maturidade da turma. Equilibrando o presencial com o virtual poderemos alcançar bons resultados a um custo menor de deslocamento, perda de tempo, além de uma maior flexibilidade de gerenciamento da aprendizagem. O grande desafio educacional hoje em todo o mundo é o aprender a ensinar e a aprender integrando ambientes presenciais e virtuais.
Encerro este artigo
com duas citações importantes do próprio autor:
“Cada curso, cada professor vai fazer isso de forma semelhante e ao mesmo tempo diferente. Não podemos padronizar e impor um modelo único do presencial-virtual. Cada área do conhecimento precisa mais ou menos do presencial. É importante experimentar, avaliar e avançar até termos segurança do ponto de equilíbrio na gestão do virtual e do presencial. Creio que a área de humanas e a de exatas ou biológicas não podem, em princípio, seguir o mesmo esquema. O ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual pode ser diferente”. (MORAN)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAPedagogia integradora do presencial-virtual Texto que será apresentado no próximo Congresso da ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância, em setembro de 2002.
José Manuel Moran
[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC – NTE MG 2 |