VOLTAR À PÁGINA INICIAL 

EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

 

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL II 

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO[1]

NOVEMBRO/2001

 

Segundo MORAN, vivemos hoje em uma sociedade em permanente mudança e isso faz com que a educação se torne um processo cada vez mais complexo. Ensinar e aprender com o uso das novas tecnologias é um desafio, somos desafiados a encontrar novos modelos, usando a televisão ou a Internet, pesquisando textos, recebendo e enviando mensagens, divulgando trabalhos. O papel do professor, tanto na educação presencial como na educação a distância vai se ampliar significativamente. Se antes o professor era um informador, que ditava conteúdos, hoje ele é um orientador da aprendizagem, um gerenciador de pesquisa e comunicação dentro e fora da sala de aula. A Educação a Distância é um processo de ensino-aprendizagem no qual professores e alunos não estão normalmente juntos, fisicamente, mas podem estar conectados, interligados por tecnologias impressas, sonoras, audiovisuais ou telemáticas.

Vamos encontrar hoje a educação presencial, a educação semipresencial e a educação a distância. A educação a distância pode ter ou não momentos presenciais, mas vai acontecer fundamentalmente com professores e alunos separados fisicamente no espaço e/ou no tempo, podendo estar juntos através de tecnologias de comunicação. Dependendo da área de conhecimento, das necessidades concretas do currículo ou mesmo para melhor aproveitamento de especialistas pode-se oferecer cursos predominantemente presenciais ou predominantemente virtuais.

 Hoje são encontrados modelos de cursos em vários formatos: textos impressos, programas de rádio ou televisão, fitas de áudio e vídeo, programas de computador, Cd-rom, DVD, na Internet.

Muitos cursos a distância utilizam material impresso como o Instituto Universal Brasileiro em seu ensino por correspondência. O correio é ainda, neste país tão desigual como o nosso, a forma de comunicação mais freqüente. A televisão já é uma mídia para cursos de impacto imediato, direcionados para milhares de pessoas, como é o caso dos telecursos. Para o autor uma experiência interessante e consolidada de educação continuada e a distância é o programa Salto para o Futuro, produzido pela TV Escola – SEED/MEC. É um programa diário, com a duração de uma hora e apresenta séries, geralmente semanais, de debates e conversas sobre um determinado tema de interesse dos professores brasileiros. Recebe perguntas ao vivo, por telefone, fax, e-mail ou carta. Os professores recebem os textos antes dos programas e estudam, depois assistem os programas juntamente com os colegas, em telessalas. Os grupos obtêm melhores resultados de aproveitamento quando possuem um tutor/orientador de aprendizagem. O autor cita ainda o curso “TV na escola e os desafios de hoje” que conta com 35 mil professores matriculados provenientes de escolas públicas de Ensino Médio e Fundamental de todo o Brasil, promovido pela Secretaria de Educação a Distância (SED/MEC) em parceria com a UniRede – Universidade Pública Virtual Brasileira. É um curso sob a coordenação da Universidade de Brasília e desenvolvido em conjunto com outras 25 universidades públicas do país. Este curso tem como objetivo qualificar professores ou outros profissionais das instituições públicas de Ensino Fundamental para melhor utilização dos recursos proporcionado pelas novas tecnologias de comunicação e informação no cotidiano escolar, com ênfase na comunicação educativa audiovisual (TV e vídeo).

Existem cursos oferecidos por vídeo ou CD-ROM. Outros cursos utilizam a teleconfe­rência, que é como uma aula multiplicada em tempo real em várias salas simultaneamente (recebida numa televisão ou telão) e com alguma interação possível (telefone, e-mail) e videoconferência (que permite, além da teleconferência o retorno com som e imagem e a possibilidade de transmitir de vários pontos simultaneamente). O Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina tem uma sólida experiência no uso de vídeo e teleconferência.

A novidade hoje é a Internet. O professor disponibiliza o seu curso na Internet, orienta as atividades dos alunos, incentiva-os a criar suas páginas, participarem de pesquisas em grupos, discutirem assuntos em fóruns ou chats. Para o autor a Internet abre um horizonte inimaginável de opções para implantação de cursos a distância, pois tem a capacidade de construir comunidades virtuais de aprendizagem.

 A escolha das mídias está ligada ao público alvo a ser capacitado, seus recursos tecnológicos e habilidades no uso dos mesmos, distribuição geográfica, além da relação custo/benefício. No Brasil, devido a diversidade tecnológica, de infra-estrutura e cultural, diversas mídias coexistirão por muito tempo: do carreio à videoconferência. O nosso país está apenas iniciando neste campo da educação a distância com o uso das novas tecnologias da informação e da comunicação. Nossa experiência é com a educação a distância via correio, rádio e televisão. Temos ainda poucos profissionais capacitados para preparar e gerenciar cursos de Educação a Distância. Estamos ainda aprendendo fazendo, experimentando, pesquisando. A maior parte dos cursos de Educação a Distância apresenta baixos níveis de interação entre professores e alunos e dos alunos entre si. A interação não vai além de se disponibilizar o conteúdo numa página com alguns exercícios que o programa corrige automaticamente. Em alguns outros já há momentos de consulta por telefone, e-mail e chats. Para se criar um curso de qualidade com bom nível de interação tem que ter um número satisfatório de tutores para grupos de alunos, que ficam mais tempo à disposição e que organizam as atividades didáticas também em grupos, orientando os alunos para pesquisarem juntos, trocarem experiências e resultados. MORAN afirma que “até agora predominam os cursos de curta duração em Educação a Distância: cursos livres, de extensão, de atualização. São mais fáceis, as organizações arriscam menos, são úteis para aprender a gerenciar processos de EAD. Há uma demanda por educação contínua na educação escolar (formação de professores em serviço) e nas empresas (educação corporativa, “treinamento”). Algumas organizações econômicas estão optando por assumir elas mesmas o processo de educação contínua (universidades corporativas) e estão optando por fórmulas presenciais, semipresenciais e totalmente a distância, dependendo do curso”.

A segunda área de oferecimento de cursos é na pós-graduação lato sensu, são cursos de especialização, de aproximadamente 360 horas e que exigem pouca burocracia para serem implementados. O que importa é a qualidade dos docentes e a certificação por uma universidade de renome. São cursos considerados livres, independentes de autorização para funcionamento ou reconhecimento por parte do MEC, a não ser que se queira expedir certificados com validade no sistema federal de Ensino Superior. Neste caso deve-se obedecer a Resolução n. 3, de 5 de outubro de 1999 do CNE.

Várias instituições, principalmente públicas, obtiveram autorização para implantar cursos de graduação a distância e estão em fase inicial de ofertas destes cursos. Para funcionamento destes cursos é necessária autorização formal da Secretaria de Ensino Superior (SESU) do Ministério da Educação, que exige um projeto bem fundamentado e detalhado e uma vistoria feita por especialistas para avaliar a qualidade técnica, pedagógica e financeira da instituição.

Na pós-graduação stricto sensu há uma indefinição do MEC através da CAPES – Fundação de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Ainda não há nenhum curso da distância de mestrado e doutorado reconhecido.

As tecnologias telemáticas de banda larga estão colocando em xeque o conceito tradicional de sala de aula, de ensino e de organização dos procedimentos educativos. A Internet está caminhando para ser audiovisual, para transmissão em tempo real de som e imagem. Cada vez será mais fácil fazer integrações profundas entre a TV e a WEB. Enquanto assiste a determinado programa, o telespectador começa a poder acessar simultaneamente as informações que achar interessantes sobre o programa, acessando o site da programadora na internet e outros bancos de dados.

 Segundo o autor estamos caminhando para formas de gestão menos centralizadas, mais flexíveis e integradas. Estamos assistindo à reorganização física dos prédios: menos quantidades de salas de aula e mais funcionais, com acesso à Internet. Os alunos começam a usar o notebook para a pesquisa, para busca de novos materiais e para solução de problemas. O professor também está conectando-se em casa e na sala de aula e faz uso de mais recursos tecnológicos como materiais de apoio para motivar os alunos e ilustrar as suas idéias. Haverá mais ambientes de pesquisa grupal e individual em cada escola, as bibliotecas se convertem em espaços de integração de mídias: software, banco de dados e assessoria.

ALGUNS PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS NA EDUCAÇÃO COM AS NOVAS TECNOLOGIAS SEGUNDO MORAN

·        Integrar tecnologias, metodologias, atividades. Integrar texto escrito, comunicação oral, escrita, hipertextual, multimídica. Aproximar as mídias, as atividades, de modo que transitem facilmente de um meio para o outro, de um formato para o outro. Experimentar as mesmas atividades em diversas mídias. Trazer o universo do audiovisual para dentro da escola.

·        Variar a forma de dar aula, as técnicas de utilização em sala de aula e fora dela, as atividades solicitadas, as dinâmicas propostas, o processo de avaliação. A repetição, a previsibilidade do que o docente sempre vai fazer pode tornar-se um obstáculo intrans­ponível. A repetição pode tornar-se insuportável, a não ser que a qualidade do professor compense o esquema padronizado de ensinar...

·        Planejar e improvisar, prever e adaptar-se às circunstâncias, ao novo. Diversificar, mu­dar, adaptar continuamente a cada grupo, a cada aluno, quando necessário.

·        Valorizar a parte presencial no que ela tem de melhor e a comunicação virtual no que ela nos favorece. Equilibrar a presença e a distância, a comunicação olho-no-olho e a telemática.

Para o autor a mudança é lenta, tanto no ensino presencial como na educação a distância. Não é fácil mudar padrões arraigados como os de ensinar, que perduram por séculos. Há uma burocracia asfixiante nas diversas organizações que gerenciam a educação. Nosso país oferece um cenário com extremas desigualdades econômicas, culturais e regionais, o que pode dificultar a implantação rápida de inovações.

MORAN vai dizer que “nosso desafio maior é caminhar para um ensino e educação de qualidade, que integre todas as dimensões do ser humano. Para isso precisamos de pessoas que façam em si mesmas essa integração do sensorial, do intelectual, do emocional, do ético e do tecnológico, que transitem de forma fácil entre o pessoal e o social, que expressem nas suas palavras e ações que estão sempre evoluindo, mudando, avançando”.

E para ele a educação de qualidade é cara e pressupõe investimentos pesados na infra-estrutura, em produção, em tecnologias e em interação com professores e tutores. Muitos alunos não estão prontos para estudarem sozinhos, faltam-lhes autonomia e maturidade. A Internet e demais tecnologias apenas nos ajudam a realizar o que já fazemos ou o que desejamos fazer. Ela potencializa o que já somos.

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

José Manuel Moran

Professor de Novas Tecnologias na USP e na Universidade Mackenzie.

 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º grau. Professor facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC.