EDUCAÇÃO & LITERATURA JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO |
REFLEXO, REFLEXÃO E AUTONOMIA Josué Geraldo Botura do Carmo[1] Março/2002 |
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Para os autores Ilan Gur-Ze’ev, Jan Masschelein & Nigel Blake** é preciso estar atento para os conceitos de reflexo e de reflexão. Temos nos deparado com os termos ‘auto-reflexão’, ‘reflexão transformadora’, ‘ato de reflexão’, ‘instituições reflexivas’, ‘culturas reflexivas’, ‘comunidades auto-reflexivas’. Para mim o conceito de reflexo está para o conceito de interação, assim como o conceito de reflexão está para o conceito de interatividade, pois no reflexo não há participação, não há diálogo, o que há é discurso, imposição, dita-se normas, e por isso não haverá transcendência. E no caso da reflexão vai haver o diálogo, interatividade e portanto transcendência. Através do diálogo e somente através dele é que o indivíduo constrói a sua autonomia. Portanto a autonomia não pode ser dada a ninguém. O papel do educador é o de propiciar ao educando a interatividade, o diálogo, em todas as situações de ensino-aprendizagem, presenciais ou virtuais, para que o educando seja capaz de construir a sua autonomia. Em nossos diálogos em sala de aula, em nossos exercícios didáticos, na escolha de software, o professor tem que estar atento para o ato da reflexão, da interatividade, do diálogo, para que se forme uma geração de pessoas autônomas de fato, capazes de reflexão, como dizem os autores: não aceitando pacificamente a força de fatos ou o curso da história, sempre pronto a fazer um julgamento da história, não permitindo ser produzido, manipulado e nem reproduzido dentro do processo histórico. A reflexão é um ato de liberdade, e ainda de luta pela própria possibilidade de liberdade. E a reflexão é um processo individual e social ao mesmo tempo, pois ocorre no âmbito social e aí exerce um papel específico.
A reflexão recusa os “fatos dados”, nega as práticas padronizantes e seus fundamentos “auto-evidentes”, filosóficos, ideológicos e sociais, e pressupõe para o indivíduo um potencial de mudança, uma diferenciação essencial entre sujeito e objeto. O sujeito luta dentro e contra suas condições sociais e existenciais e suas condições conceituais, emocionais e éticas, em um processo dialógico, em que são questionados o domínio predominante do auto-evidente e de sua própria existência, sua presente constituição e metas.
O diálogo, a interatividade, a reflexão nos transportam para além da dimensão vigente da auto-evidência, e nos fazem seres autônomos. E para que haja um diálogo é necessário que reconheçamos o outro como totalmente diferente, mas um parceiro igual, uma possível fonte de novas perspectivas e possibilidades. Altera-se a totalidade da normalidade e abre espaço para alternativas. Um diálogo se determina pela solidariedade entre parceiros, pelo distanciamento que ambos consigam quanto ao que está dado e ao que parece auto-evidente. O nosso compromisso é com o diálogo e contra a padronização do ser humano. Objetos podem ser padronizados, seres humanos não. Precisamos portanto reforçar os potenciais reflexivos do sujeito contra o auto-evidente, contra toda prática de padronização do ser humano, seja formal ou informal, em escolas e nas interações sociais e culturais, pois o ser humano é aquele capaz de reflexão, responsabilidade e transcendência.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAREFLEXO, REFLEXÃO E CONTRA-EDUCAÇÃO* Tradução: Newton Ramos - Professor da UNESP VEJA TAMBÉM
UNIVERSALIDADE COM TOTALIZAÇÃO UNIVERSALIDADE SEM TOTALIZAÇÃO
[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus, e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC.
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