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EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

 

O ESPAÇO GEOGRÁFICO DA PÓS-MODERNIDADE:

UM ESPAÇO SEM FRONTEIRAS OU O DESLOCAMENTO DA NOÇÃO CONVENCIONAL DE ESPAÇO

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Out.2002

 

Segundo o autor o ciberespaço é uma condição ambiental estabelecida pelas novas tecnologias da comunicação: as redes telemáticas, a telefonia móvel, as televisões a cabo, que permitem conecções on-line e interativas, através da tela e o teclado do computador, do controle remoto da TV, do áudio dos telefones móveis. Desta forma esse fenômeno cultural contemporâneo promove esse novo e profícuo espaço sócio-cultural, tornando-se parte fundamental de nossa cultura. No ciberespaço experimentamos o não-espaço e circulamos em um território transnacional. E ao deslocarmos de um ponto a outro desaparecem as referências de lugar e de caminho.  

Com a intensificação do uso das novas mídias, uma nova cultura está sendo construída com agrupamentos sociais inéditos, práticas anônimas de interação, tribos. São ambientes sociais complexos e plurais, são agrupamentos efêmeros e velozes com amplo descompromisso com a permanência e duração das inter-relações. São jogos interativos, fóruns de debates científicos, pontos de encontro.  

Para o autor todas estas práticas, e muitas outras vão compor um cenário maior de acontecimentos que se inserem no contexto da pós-modernidade: ficção, fragmentação, colagem e ecletismo infundidos de um sentido de efemeridade e de caos como diria HARVEY[2] (1992), segundo o autor.

Receita de cajuzinho... Sexo explícito... Tudo está na rede. E ainda não podemos nos esquecer que, do conforto de nossas casas, enviamos e recebemos mensagens a grande parte do mundo e de muitas partes do mundo, fazemos transações bancárias, fechamos negócios, fazemos compras. Tudo dentro do nosso tempo. Fazemos à hora que melhor nos convém... Dentro das 24 horas do dia, é claro.

O ciberespaço é a realização do sonho de uma “inteligência coletiva” e o deslocamento das noções convencionais do espaço.  A modernidade controlou, manipulou e organizou o espaço físico, estabelecendo limites territoriais, insistiu na dominação física de energia e de matérias, e na compartimentalização do tempo. Hoje estamos vivendo um processo de desmaterialização do espaço físico. O tempo-real vai aos poucos exterminando o espaço, o ciberespaço é um “espaço mágico”, é uma “outra dimensão”, é a “casa da imaginação, o lugar onde se encontram racionalidade tecnológica, vitalismo social e pensamento mágico” como diria LEMOS[3] (1996), segundo o autor.

Assistimos assim a formação de blocos econômicos, abertura das fronteiras alfandegárias, o fenômeno da globalização e a intensificação dos intercâmbios culturais.

A rede de certo modo, segundo o autor, vai negar a geometria.

“A Rede nega, de certo modo, a geometria. Mesmo que haja uma ‘arquitetura’ das conexões da rede de computadores, mesmo que exista uma ‘topologia’ das instalações dos cabos por onde trafegam as informações eletrônicas, mesmo que os projetos dos nodes e links das redes telemáticas assemelhem-se ao desenho de uma cidade, seu ambiente é marcado por uma não-espacialidade. Não se pode ensinar a um visitante o percurso que se faz para alcançar um determinado local. Também não se pode descrever a paisagem e as referências desse caminho. Não há percurso. O que se tem é unicamente a chave de acesso a um determinado ‘lugar’, seja um endereço para o qual se deve enviar um e-mail, seja um site www que se queira visitar. A rede é um ambiente: nenhum lugar em particular, mas todos de uma só vez. Não se vai a um lugar, mas se entra nele. Na verdade, apesar do habitual uso da figura metafórica, é evidente que, quando estamos ‘explorando’ a Internet (ou ‘navegando-a’) não estamos indo de fato a lugar algum; estamos apenas executando um ato eletrônico de acesso a um banco de dados, a uma informação”. (CARDOSO)

 RHEINGOLD[4] (1996), segundo o autor, vai dizer que um banco de dados pode abrigar uma sociedade inteira e para isso basta que seus usuários decidam fazê-lo. Uma lista de discussão, uma sala de bate-papo on-line são bancos de dados compartilhados por vários usuários ao mesmo tempo. E são nesses bancos de dados que fervilham todas as sociedades virtuais. O espaço público cede lugar à partilha dos bancos de dados. (Só os bancos permanecem nesse espaço público).

Ao enviar um e-mail não estamos enviando a um local determinado. É uma chave eletrônica de acesso a alguma caixa de mensagens, localizada em algum computador, em algum ponto da rede. Ao enviá-lo não sabemos ao certo onde ele será recebido, só sabemos por quem será recebido. A troca de e-mails conecta pessoas entre locações indeterminadas.

Através de uma janela do windows monitoramos um canal de voz para conversação em tempo-real com um amigo no Canadá, outra janela com uma pilha de correspondências de várias partes do mundo recebidas nas últimas 24 horas, através do e-mail, e em outra janela imagem ao vivo de um sobrinho que mora em São Paulo transmitida através de uma pequena câmera acoplada ao computador. Nossos vizinhos agora estão mais distantes do que nosso amigo do Canadá. É o habitat humano que está sendo re-inventado. Se antes a comunidade era basicamente a vizinhança, agora é o mundo. MITCHELL[5] (1995) vai dizer, segundo o autor, que a telepresença substitui a presença física e cada vez mais os negócios e as interações sociais transferem-se para o ciberespaço. A acessibilidade não depende mais da proximidade. As comunidades estão deslocadas da realidade geográfica tradicional.

Essa nova noção de espaço vai completar e intensificar a sensibilidade da cultura contemporânea.  É claro que o sonho do planeta sem fronteiras está ainda longe de acontecer, pois há ainda uma complexa estratificação ao acesso da informação, mas estamos no começo da possibilidade de esse fato vir a ser realidade, pois há uma alteração substancial nas possibilidades de circulação da informação e nas possibilidades de formação de comunidades internacionais, “deslocadas da realidade geográfica”.

Como diz Hawking[6] (2001) Agora que “as coisas estão se tornando interessantes”. p.159

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CARDOSO*,Cláudio. Notas Sobre a Geografia do Ciberespaço.

<http://www.facom.ufba.br/pretextos>

Acessado em 05/10/2002

 

*Doutorando em Comunicação e Cultura Contemporânea - UFBA/FACOM, membro do grupo Cyberpesquisa. 

 

VER TAMBÉM

O CIBERESPAÇO

O ESPAÇO CIBERNÉTICO


 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC – NTE MG2

[2]  HARVEY, David. "A Condição Pós-Moderna". São Paulo: Loyola, 1992, p.96. 

[3]  LEMOS, André. "As estruturas antropológicas do ciberespaço". Salvador: texto produzido para os seminários do grupo Cyberpesquisa/Facom-Ufba, 1996, p.2-4, inédito. 

[4] RHEINGOLD, Howard. "New Tribes in Real-Time". Novembro/95, < http://www.well.com/user/hlr > (06/02/96). 

 

[5] MITCHELL, William. "The City of Bits". Boston: MIT Press, 1995, p.166 (tradução do autor). 

[6] HAWKING, Stephen. O universo numa casca de noz. Trad. Ivo Korytowski. São Paulo. Ed. Mandarim, 2001.